“TODOS NUM SÓ RITMO”

Por Carlos Humberto

carlos humbertoO slogan dá a direção, mas será que todos o seguem?

Estimativas da FIFA revelam que um público de 3,5 bilhões de pessoas irão assistir à Copa em mais de 200 países. Isso é quase metade da população mundial! Juntas, as emissoras exibirão 73 mil horas de transmissão. É como deixar a TV ligada, direto, por oito anos.
Essa será uma copa superlativa, de números astronômicos. Foram pedidos 11 milhões de ingressos, dos quais 3 milhões já foram vendidos e 20 mil profissionais de imprensa foram credenciados para a cobertura, três mil a mais do que os dois últimos mundiais. Num ato de “generosidade”, a FIFA estipulou o prêmio de R$ 78 milhões para o time campeão, 37% a mais do que na Copa da África do Sul em 2010.
Uma “merreca”, se compararmos ao total que será rateado entre as 32 seleções, cerca de R$ 1.272 bilhão. O lucro previsto pela empresa presidida pelo suíço Joseph Blatter está na casa de R$ 4 bilhões líquidos, graças, em parte, às benesses governamentais que isentam patrocinadores Fifa de imposto zero. Pior para nós que pagamos até 35% de impostos numa cesta básica de alimentos.
Nos rincões desta terra chamada brasilis, nós, nativos, sabemos dimensionar o alcance destes números? O que significa legado para nós, moradores do país anfitrião do maior evento de um só esporte – o futebol – do mundo? Será que a tão propalada mobilidade urbana vai desviar o meu caminho para o trabalho?
Esse provável conflito não deve ser colocado na conta da ignorância e alienação da maioria da população que por motivos conhecidos não tem acesso ao significado dessas informações. Essa mesma maioria tem problemas prosaicos mais urgentes a resolver do que rebater o “pé na bunda” prometido pelo secretário JéromeValcke.
A repercussão das declarações de Joana Havelange e Ronaldo Nazário já perderem o eco nesse emaranhado louco de tantas notícias, fatos e factoides. Ambos integrantes  do Comitê Organizador Local da Copa (COL) – ela, filha de Ricardo Teixeira e neta de João Havelange, ele, ex-jogador, atual empresário de Neymar e comentarista da Globo – talvez tenham cometido ato falho ao disparar acusações e pontos de vistas tachados por alguns de oportunistas e reveladores.
O que eles disseram há poucos dias do início do espetáculo não repercutiu o suficiente para encobrir a massificante cobertura que os meios de comunicação dispensam às seleções que chegam, os amistosos preparatórios e até os inevitáveis cortes de jogadores de última hora.
A presidenta Dilma Rousseff reagiu tardiamente. “Teremos uma Copa no padrão Brasil” deveria ter sido dito há mais tempo e, mesmo tardio, seu desabafo parece ter funcionado como o um tapa na mesa para uns ou freio de arrumação para outros.
“Para quem não acreditava, a Copa já começou”. Essa constatação, que parece conter uma certa dose de alívio, vem do mesmo francês que um dia prometeu um chute nos fundilhos dos brasileiros. Hoje, desconfio que quando a FIFA aprovou a frase “Todos num só ritmo” como slogan da Copa, nem de longe imaginava que seríamos nós a ditar esse ritmo e não eles. Agora é tarde.

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