Bancada do Nordeste discute desenvolvimento científico para a região

Por Gonzaaga Patriota

Qualquer modelo de desenvolvimento científico e tecnológico a ser implantado no Nordeste, na nossa visão, só terá consistência se a educação for fortalecida em todos os níveis. A história mostra que somente os países que estruturaram devidamente a sua base educacional alcançaram níveis de desenvolvimento tecnológico de primeiro mundo. São exemplos: EUA, Japão, Alemanha, Israel, Canadá, Coréia do Sul, dentre outros.

No Brasil, além da fragilidade do segmento educacional, as ações da Ciência e Tecnologia e da Educação estão em compartimentos distintos e sem a devida comunicação.

Devemos ter a consciência de que a Ciência e Tecnologia fazem parte da cadeia de conhecimentos que começa com o ensino fundamental, avança no ensino médio e profissionalizante, entra na graduação e pós-graduação, caminha para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico e chega ao mercado com os trabalhos de extensão, engenharia e inovação.

É a integração dessa cadeia e a eficiência de suas partes que definem o patrimônio educacional, científico e tecnológico de uma região ou país.

Segundo o deputado Ariosto Holanda, do PSB do Ceará, profundo estudioso dessa matéria, a CPI mista da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, instalada em 1993, que procurou identificar as causas e dimensões do atraso tecnológico do país, nas suas conclusões, apontou como causa principal a degradação da estrutura educacional do país. Foi também ressaltado que havia um número reduzido de escolas técnicas de nível médio e ausência significativa de centros de ensino tecnológico no país. E, os piores indicadores educacionais se encontravam no Nordeste, com 50%, e no Norte, com 20%. Por isso, essas duas regiões ainda estão enquadradas abaixo da linha de pobreza no Brasil.

Entendemos que a Educação, Ciência e Tecnologia quando devidamente direcionadas, podem se constituir numa das ferramentas mais importantes na luta contra a miséria.

Observa-se, no entanto, que ações da ciência e tecnologia relacionadas com a extensão tecnológica, transferência do conhecimento, inovação e informação, nunca foram devidamente equacionadas e, sempre estiveram ausentes dos planos de ciência e tecnologia dos estados e dos municípios, como ações abrangentes e de massa.

Se de um lado, a prioridade dada à pós-graduação e pesquisa resultou na geração de novos conhecimentos, do outro, a falta do mecanismo da extensão e informação tem resultado no armazenamento desses conhecimentos nas prateleiras das nossas universidades e instituições de pesquisa.

A UNESCO, no seu relatório do ano 2000, conclamava os pesquisadores para voltarem suas atenções para as regiões pobres, no sentido de identificar os seus problemas e abrir caminho para as soluções dos mesmos, para isso, acrescentava: “Os instrumentos da assistência tecnológica que estejam na pauta das universidades e instituições de pesquisa devem ser usados para levar inovação e informação para as populações distantes dos grandes centros”.

Essa ação não só age na transferência e aplicação do conhecimento, mas também, na identificação da demanda tecnológica local realimentando assim, os trabalhos da pesquisa. São os trabalhos de extensão que chegam na ponta e alcançam o homem e as pequenas empresas.

Hoje, fala-se muito em cluster, em empreendedorismo, em cadeia produtiva, em empresa de base tecnológica, em incubadoras de empresa e industriais, em arranjo produtivo, mas, não se fala em acabar com o analfabetismo tecnológico da população, das pequenas empresas e dos pequenos negócios.

Torna-se urgente uma ação em massa, voltada para a assistência tecnológica às micro e pequenas empresas e para implantação de um amplo programa de ensino tecnológico, pautado, sobretudo, nas vocações regionais.

O grande desafio que se apresenta aos que pensam o Nordeste é o de implantar, numa região de baixo IDH, carente de recursos humanos qualificados, com taxa elevada de analfabetos funcionais, deficiente de laboratórios de pesquisa, com as pequenas empresas sem condições de inovar, um modelo de desenvolvimento científico e tecnológico que se volte para a capacitação tecnológica da população, para o fortalecimento dos centros geradores de conhecimento, para a criação de mecanismos inovadores e para sua integração com o setor produtivo.

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