Juazeiro homenageia 80 anos de João Gilberto

Juazeiro hoje se curva ao músico João Gilberto em comemoração aos seus 80 anos. Pela primeira vez na história da cidade, o seu filho mais ilustre será homenageado com uma programação ampla, que envolve oficinas, exposição e apresentações musicais. A festa, no entanto, não terá a participação dele que seria o convidado principal. Por maior expectativa que se tenha criado, João Gilberto não vem. A razão é simples, como explica o organizador do evento, cantor e compositor Maurício Dias (Mauriçola): “Ele não gosta de aparecer. É o jeito João Gilberto de ser. Eu falei com ele da homenagem, ele ficou preocupado, porque envolve o nome dele, mas deixou a gente à vontade, sabendo que não viria”.


Para Mauriçola, a maior expectativa é para o show que acontece hoje, a partir das 20h, na Orla da cidade, com a presença de João Bosco, Regina Benedetti, Aderbal Duarte e atrações locais. “É uma oportunidade para que as gerações novas conheçam a Bossa Nova, que mexeu com o mundo todo, que até hoje influencia muita gente. Pena que essas músicas não tocam mais no rádio. A Bossa Nova no mundo está viva. Mas em Juazeiro não se escuta mais nem MPB. É só forró, pagode e música religiosa”, lamenta. Antes do show, será celebrada uma missa em ação de graças em homenagem ao aniversariante, na Catedral, às 19h.


ATRASO – Pela grandiosidade que se esperava do evento, que tem parceria com a Prefeitura Municipal e o Governo do Estado, ele começou a ser produzido tarde e acabou não reunindo os nomes dos quais se falava. Mesmo alguns cantores locais que trabalham com o gênero ficaram de fora.


“Isso (a organização) aconteceu de três meses para cá, quando Crisóstomo Lima assumiu a secretaria de Igualdade, Assistência Social e Cultura. Fomos a Brasília, a Salvador, mas não conseguimos muita coisa. Tínhamos que ter começado mais cedo”, admite.


INSATISFAÇÃO – Muitos juazeirenses, ou os que adotaram o lugar como terra natal, questionaram a homenagem ao cantor. O poeta, cantor e compositor Manuca Almeida foi uma dessas vozes. “Juazeiro não conhece João Gilberto, não tem ideia da dimensão do que é ele para a música mundial, para a música popular brasileira. Se você parar para pensar todos os astros ouviram falar ou têm uma influência de João Gilberto”.


Para Manuca, há uma dificuldade de se compreender a genialidade de João, e de entender que gênios são diferentes na maneira de se colocar, de pensar. E com essa justificativa questiona o evento e os investimentos. “Que homenagem para João Gilberto? Pode haver um sentimento de homenagem, que é a coisa mais pobre que pode existir. Mas também tem sua importância, seria pior se não acontecesse”, afirma.


Segundo o poeta, não há como se fazer um evento, ainda mais a uma pessoa com a importância e o renome do homenageado, com R$ 35 mil que foram repassados pelo Governo do Estado. Para ele, esse valor deveria ser gasto somente com panfleto. “Se a Bahia tivesse noção do que é João Gilberto se estaria ganhando muito mais. Mas só que a cultura não tem importância nenhuma”.

 

 

Portal Gazzeta

Texto: Inês Guimarães 
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