Candidatos democratas tiveram vitória em Nova Jersey, Virgínia, Nova York e Califórnia, sinalizando descontentamento com presidente americano

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Os eleitores da Costa Leste americana, em toda a sua extensão, deram uma vitória esmagadora aos democratas na terça-feira (4).
Foram eleitos candidatos de todo o espectro ideológico do partido, em uma demonstração clara de descontentamento com o presidente dos EUA, Donald Trump, quase um ano após o início de seu segundo mandato.
Na Virgínia, a ex-deputada moderada Abigail Spanberger obteve o melhor desempenho democrata na história recente do estado, conquistando uma vitória tranquila.
Em Nova Jersey, outra deputada moderada, Mikie Sherrill, desmanchou a coalizão que Trump e seu rival republicano, o ex-legislador estadual Jack Ciattarelli, haviam formado para diminuir a diferença no estado nas últimas eleições.
Na cidade de Nova York, a vitória do socialista democrático Zohran Mamdani marcou a segunda vez neste ano o ex-governador Andrew Cuomo foi derrotado — primeiro nas primárias democratas e depois na eleição geral, com ele concorrendo como deputado independente apoiado por Trump.
As vitórias democratas de candidatos com diferenças ideológicas evidentes pouco contribuirão para acalmar o debate interno acirrado do partido sobre os próximos passos.
Ainda há uma série de primárias competitivas na eleição de meio de mandato, que está a poucos meses de acontecer, além da primária presidencial de 2028.

Mas as campanhas tiveram alguns pontos em comum. Embora as soluções fossem diferentes, os candidatos se concentraram na questão da acessibilidade financeira e em criticar o desempenho de Trump.
“Não é apenas uma mensagem sobre os democratas; é uma mensagem sobre todo o nosso país. Acho que os americanos estão horrorizados com o que estão vendo vindo deste governo”, disse a deputada de Nova York, Alexandria Ocasio-Cortez, à CNN, na festa de vitória de Mamdani.
Na Califórnia, os eleitores aprovaram por ampla maioria uma medida de redistribuição de distritos eleitorais destinada a aumentar as chances dos democratas na disputa pelo controle da Câmara dos Representantes em 2026.
E na Pensilvânia, os juízes democratas da Suprema Corte estadual venceram as votações de retenção, permitindo que os democratas mantenham a maioria no tribunal superior em um estado tradicionalmente disputado, onde contestações judiciais sobre as regras de votação são praticamente inevitáveis.
Mamdani derrota Cuomo
Zohran Mamdani atraiu imensa atenção nacional por sua ideologia progressista e por cortejar eleitores ávidos por um rosto novo.
Mas na cidade de Nova York, seu foco implacável em reduzir custos pode ter se mostrado mais persuasivo — e os eleitores estavam a caminho de impulsionar seus esforços futuros, aprovando também uma série de medidas eleitorais destinadas a reduzir a burocracia na construção de moradias populares.
Se ele cumprir suas promessas, Nova York se tornará um modelo para cidades de todo o país onde o custo de vida disparou.
Se Mamdani fracassar, poderá ser usado como um alerta contra os progressistas em geral, à medida que as primárias presidenciais de 2028 se aproximam.
Para Cuomo, que tentava um retorno político após renunciar ao cargo de governador em 2021, o resultado foi constrangedor.
Também foi um fracasso para Trump, que, no final da campanha, apoiou Cuomo em vez do republicano Curtis Sliwa. O presidente americano afirmou no domingo (2), durante programa “60 Minutes” da CBS, que “se for para escolher entre um democrata ruim e um comunista, vou escolher o democrata ruim sempre”.
Uma grande virada nos subúrbios
A primeira grande vitória dos democratas na terça-feira (4) veio na Virgínia, com a ex-deputada moderada Abigail Spanberger.
Ela é ex-agente da CIA, e conquistou um distrito congressional competitivo em 2018, mantendo-o até se aposentar este ano para se concentrar na corrida para governadora.
Uma demonstração de de seu domínio veio do Condado de Loudoun — uma região de subúrbios e áreas rurais no norte da Virgínia, acompanhada de perto pelos resultados.
Com a maior parte dos votos esperados apurados às 21h, no horário local (23h, no horário de Brasília) de terça-feira (4), Spanberger tinha mais de 64% dos votos.

Isso representava uma vantagem de 8 pontos percentuais sobre a ex-vice-presidente Kamala Harris na eleição presidencial de 2024 e de 9 pontos sobre o candidato derrotado do partido ao governo do estado em 2021, Terry McAuliffe.
Spanberger estava quase 5 pontos à frente do desempenho do ex-governador Ralph Northam no Condado de Loudoun em 2017 — uma grande vitória democrata no primeiro mandato de Trump, que prenunciou o forte desempenho do partido nas eleições de meio de mandato de 2018.
A ex-deputada teve um desempenho melhor do que os candidatos democratas recentes em todo o estado da Virgínia, provavelmente impulsionado em parte pelo desmanche do funcionalismo público federal promovido pelo governo Trump.
Milhares de funcionários federais, atuais e antigos, residem em toda a região.
Uma pesquisa de boca de urna da CNN revelou que Spanberger obteve 61% dos votos daqueles que têm um funcionário ou contratado federal em sua residência, em comparação com 52% de apoio daqueles que não têm.
A margem de vitória dela foi grande o suficiente para levar Jay Jones, o candidato democrata a procurador-geral que foi abalado pela divulgação de mensagens de texto.
As conversas sugeriam que um ex-colega legislativo fosse baleado, à vitória, mesmo estando cerca de 5 pontos atrás de Spanberger.
Jones derrotou o republicano Jason Miyares, que buscava a reeleição.
Uma barreira cai na Virgínia
Independentemente do resultado, a eleição na Virgínia faria história: a vencedora se tornaria a primeira mulher a governar o estado.
Spanberger destacou esse momento histórico, relatando aos seus apoiadores que o marido havia dito aos filhos que a mãe deles se tornaria governadora da Virgínia.
“Posso garantir que essas palavras nunca foram ditas na Virgínia antes”, disse Spanberger. “É muito importante que as meninas e jovens mulheres que conheci ao longo da campanha agora saibam com certeza que podem alcançar qualquer coisa.”
Nova Jersey revela sentimento anti-Trump
Na Virgínia, a qualidade dos candidatos foi um fator determinante no resultado, já que os republicanos reclamaram durante meses de sua indicada, Earle-Sears.
Mas, em Nova Jersey a história era diferente.
O republicano Jack Ciattarellitinha tinha um bom desempenho em todo o estado, após ter ficado perto de se eleger governador em 2021.
Ele também tinha sua própria marca — um apelo de “cara de Nova Jersey” que ele esperava que o diferenciasse de Trump apesar do apoio do presidente.
Em muitos aspectos, essas realidades fizeram de Nova Jersey um indicador melhor do sentimento anti-Trump.
Uma questão crucial era se Ciattarelli conseguiria replicar o desempenho de Trump entre os eleitores latinos: eles se inclinaram fortemente para o Partido Republicano em nível nacional em novembro passado, com o presidente conquistando 46% dos votos contra 51% de Kamala Harris, segundo pesquisa de boca de urna da CNN.
Na terça-feira (4), em Nova Jersey, a resposta foi não: A deputada moderada Mikie Sherrill obteve 64% dos votos latinos contra 32% de Ciattarelli, de acordo com a pesquisa de boca de urna da CNN.

Ela também conquistou 91% dos votos dos eleitores negros. E venceu entre os independentes por uma margem de 7 pontos percentuais. Os moderados apoiaram Sherrill por 58% a 39%.
Ciattarelli venceu com folga entre os 34% dos eleitores que disseram que os impostos eram a questão mais importante para Nova Jersey.
Mas 32% disseram que a economia — que os republicanos esperavam que fosse um ponto forte, já que o estado é atualmente controlado pelos democratas — era a questão mais importante, e esses eleitores apoiaram Sherrill por 61% a 37%.
Momento decisivo de Newsom no redistritamento
Os eleitores da Califórnia deram um grande impulso às esperanças dos democratas de conquistar a maioria na Câmara nas eleições de meio de mandato do ano que vem.
Além disso, eles também proporcionaram ao governador Gavin Newsom um momento marcante no cenário nacional, demonstrando aos eleitores democratas que ele pode enfrentar Trump antes de uma possível candidatura presidencial em 2028.
Os eleitores do estado aprovaram uma medida eleitoral que revogaria os atuais limites dos distritos eleitorais para o Congresso. Esses limites foram definidos por uma comissão independente, em favor de novos mapas que dariam aos democratas cinco distritos mais favoráveis.
O redesenho dos distritos eleitorais em meados da década é a resposta de Newsom ao Texas, que redesenhou seus mapas em um esforço para dar ao Partido Republicano cinco distritos adicionais com maior probabilidade de vitória.
Este foi um pedido de Trump, enquanto o presidente buscava maneiras de manter a estreita maioria republicana na Câmara no ano seguinte.
Em meio a uma breve, porém intensa, batalha publicitária antes da votação, Newsom se tornou o rosto da iniciativa de redesenho dos distritos. Ele arrecadou US$ 108 milhões (aprox. R$ 580 milhões) para a campanha e apareceu em anúncios que a apoiavam. Ele a promoveu em uma série de entrevistas e participações em podcasts.
“Com a Proposta 50, a Lei de Resposta à Fraude Eleitoral, podemos deter Trump de vez”, disse Newsom em um trecho da campanha, em frente a uma bandeira americana. É possível que o público nacional o veja com muito mais frequência nos próximos anos.
Vitórias de democratas em eleições para outros cargos
Além das grandes vitórias na Virgínia, Nova Jersey, Nova York e Califórnia, os democratas conquistaram disputas de menor visibilidade que podem render frutos nos próximos anos.
Na Pensilvânia, os juízes democratas da Suprema Corte estadual mantiveram seus cargos para novos mandatos de 10 anos — preservando a maioria do partido na corte em um estado onde as eleições presidenciais podem ser ganhas ou perdidas, e as regras eleitorais são frequentemente contestadas.
As eleições de terça-feira (4) também tiveram repercussões na corrida nacional pelo redistritamento eleitoral.
Os democratas estão a caminho de ampliar a estreita maioria na Câmara dos Delegados da Virgínia, abrindo caminho para que o partido busque uma emenda constitucional que lhes permita redesenhar os mapas dos distritos eleitorais.
E no Maine, um estado crucial na disputa pelo controle do Senado no próximo ano, os eleitores rejeitaram uma proposta que exigiria a apresentação de documento de identidade com foto nas urnas e na solicitação de votos por correspondência, entre outras medidas