Por Brian Handwerk –
Por que a sexta-feira 13 nos assusta? De onde vem as origens desse medo
Como a data ganhou sua reputação de má sorte e até mesmo os descrentes podem ser influenciados por essa triscaidecafobia coletiva.
Os estudiosos acreditam que a superstição em torno da sexta-feira 13 pode ter raízes em crenças religiosas, mas a maioria das pesquisas mostrou que o dia não é mais azarado do que outros dias do calendário.
Foto de Alex Saberi, Nat Geo Image Collection
O dia mais assustador do calendário está de volta: a sexta-feira 13.
Em 2022, houve apenas uma sexta-feira assustadora – ocorrida em 13 de maio. Mas no ano passado, porém, o dia infausto ocorreu duas vezes: em 13 de janeiro e 13 de outubro de 2023. Já em 2024, também são duas as sextas-feiras 13 a assombrar as pessoas – uma caiu em 13 de setembro e a outra ocorre em 13 de dezembro de 2024.
Parece que não importa quantas dessas sextas-feiras 13 se sobreviva ileso, o temido dia continua a inspirar inquietações e temores de infortúnio.
Não há nenhuma razão lógica para temer a coincidência ocasional de qualquer dia e data regidos pelo ciclo de 400 anos do calendário gregoriano. Mas a sexta-feira 13 ainda pode ter impactos perceptíveis e, às vezes, nós os criamos em nossas próprias mentes – para o bem e para o mal.
Por que até mesmo os céticos podem ser supersticiosos
Jane Risen, cientista comportamental da Booth School of Business, da Universidade de Chicago, apontou que as superstições podem influenciar até mesmo os descrentes. Em um estudo de 2016, Risen descobriu que as pessoas que se identificam como supersticiosas e não-supersticiosas acreditam que um resultado ruim é mais provável quando brincam com a sorte.
Por exemplo, tanto um grupo quanto o outro se preocupam com o fato de que afirmar que definitivamente não se envolverão em um acidente de carro aumentará a probabilidade de que isso aconteça.
“De modo geral, acho que isso ocorre porque o resultado ruim vem à mente e é imaginado mais claramente após a pessoa se sentir sem sorte ou amaldiçoada por algo”, explica ela. “As pessoas usam a facilidade de imaginar algo como um indício de sua probabilidade.”
Esse tipo de pensamento pode ser mais difundido na sexta-feira 13: “Mesmo que eu não acredite ativamente, só o fato de a sexta-feira 13 existir como um elemento cultural conhecido significa que eu a considero uma possibilidade”, diz ela. Quando eventos que, de outra forma, não seriam notáveis ocorrem nesta data, tendemos a perceber.
“Isso adiciona um pouco mais de combustível a essa intuição, faz com que ela pareça um pouco mais verdadeira, mesmo quando você reconhece que não é verdade.”
Felizmente, a pesquisa de Risen também sugere que a realização de rituais que afastam a má sorte – como bater na madeira ou jogar sal – pode ter resultados surpreendentes. Em um estudo de 2014, ela descobriu que algumas pessoas usam esses rituais mesmo quando não acreditam ativamente e, quando testadas, ambos os tipos de pessoas relataram benefícios de tais atos.
“Descobrimos que as pessoas que se sentem azaradas não acham que o resultado ruim seja especialmente provável se elas baterem na madeira”, diz Risen. “Portanto, o ritual parece ajudar a controlar sua preocupação.”
Dessa forma, o simples fato de estar ciente das superstições pode ajudar a injetar um senso de ordem em um mundo de preocupações aleatórias e incontroláveis, de acordo com Rebecca Borah, professora de inglês da Universidade de Cincinnati.
“Quando você tem regras e sabe como segui-las, sempre parece muito mais fácil”, disse ela à National Geographic em 2014. Por isso, quando há uma sexta-feira 13, “não fazemos nada muito perigoso ou assustador no dia, mas verificamos novamente se há gasolina suficiente no carro, ou o que quer que seja”.
“Algumas pessoas podem até ficar em casa – embora, estatisticamente, a maioria dos acidentes aconteça em casa, então essa pode não ser a melhor estratégia.”
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As origens dos medos relacionados à sexta-feira 13
É difícil determinar as origens e a evolução de uma superstição. Mas Stuart Vyse, autor e ex-professor de psicologia do Connecticut College na cidade estadunidense de New London, Connecticut, disse à National Geographic (em 2014) que nosso medo da sexta-feira 13 pode estar enraizado nas crenças religiosas que envolvem o 13º convidado da Última Ceia – Judas, o apóstolo que supostamente traiu Jesus – e a crucificação em uma sexta-feira, que era conhecida como o dia do carrasco.
A combinação desses fatores produziu uma “espécie de golpe duplo de 13 caindo em um dia já culturalmente tenso”, explicou Vyse. Alguns estudiosos da Bíblia também acreditam que Eva tentou Adão com o fruto proibido em uma sexta-feira e que Abel foi morto por seu irmão Caim em uma sexta-feira 13.
Curiosamente, a Espanha parece ter escapado dessa união malévola de número e dia. Lá, a sexta-feira 13 não é motivo de alarme e, em vez disso, a terça-feira 13 é a data mais perigosa do ano.
Outros especialistas suspeitam de raízes ainda mais antigas para essa forma de triscaidecafobia – o nome científico para o medo da sexta-feira 13. Thomas Fernsler, cientista associado de políticas do Centro de Recursos de Educação em Matemática e Ciências da Universidade de Delaware, em Newark, EUA, disse que o número 13 sofre por causa de sua posição após o 12.
Isso porque os numerologistas consideram o 12 um número “completo”. Há 12 meses em um ano, 12 signos do zodíaco, 12 deuses do Olimpo, 12 trabalhos de Hércules, 12 tribos de Israel e 12 apóstolos de Jesus.
A associação do número 13 com a má sorte “tem a ver com o fato de este número estar além da completude. O número se torna inquietante por isso”, observou ele.
A numerologia também pode explicar por que os italianos não se incomodam com a sexta-feira 13, mas temem o dia 17. O numeral romano XVII (17 em número romano) pode ser reorganizado para soletrar “VIXI”, que traduzido do latim significa “minha vida acabou”.
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Os gatos pretos também são vistos como símbolos de má sorte em muitas culturas européias.
Foto de Robbie George, Nat Geo Image Collection
Então, a sexta-feira 13 é realmente uma data de azar e medo?
Por mais arbitrárias que sejam, superstições como medo de escadas, gatos pretos ou números “azarados” são incrivelmente persistentes.
“Uma vez que elas estão na cultura, tendemos reconhecê-las”, explicou Thomas Gilovich, professor de psicologia da Cornell University em Ithaca, Nova York, em 2013. “Você sente que, se for ignorá-lo, estará testando o destino.”
Algumas pessoas, seja por determinação ou por necessidade, cerram os dentes e passam o dia nervosamente. Outras realmente agem de forma diferente na sexta-feira 13.
Elas podem se recusar a viajar, comprar uma casa ou agir com base em uma dica de ações em alta, e essas inações podem desacelerar visivelmente a atividade econômica, de acordo com o falecido Donald Dossey, historiador do folclore e fundador do Stress Management Center and Phobia Institute, que conversou com a National Geographic em 2013.
Mas, embora algumas pessoas ajam de forma diferente nesse dia, muitas pesquisas sugerem que nenhum de nós realmente encontra problemas com mais frequência. Em 2011, um estudo alemão descobriu que não há motivo para temer uma cirurgia na sexta-feira 13; a frequência e os resultados prováveis dos procedimentos não são diferentes dos de qualquer outro dia.
Enquanto isso, as salas de emergência dos EUA não registram aumento de pacientes, segundo outros pesquisadores em 2012. Até mesmo o mercado de ações, no qual os medos irracionais podem direcionar o comportamento do mundo real, não se sai pior na sexta-feira 13.
Felizmente, a sexta-feira 13 não ocorre com tanta frequência. A maioria dos anos, como 2023, tem duas sextas-feiras 13, enquanto alguns têm apenas uma. Anos particularmente azarados, como 2026, apresentam três desses dias infelizes.
Em breve, essa última sexta-feira 13 passará, e até mesmo os mais supersticiosos podem ficar tranquilos – ao menos até a próxima.
Esta reportagem foi publicada originalmente em 2013 e foi atualizada em 2024.