Transposição do Rio São Francisco: água para o latifúndio e seca para o povo

por Comitê de Apoio –

Passados já 7 anos do início da operação do eixo leste da Transposição, poucas são as comunidades beneficiadas de fato. Isto porque o governo não construiu os sistemas de captação e distribuição das águas para atender as comunidades, o que prejudica o abastecimento e a irrigação.
19 de setembro de 2024· 1 minuto de leitura

Pernambuco é uma dos quatros estados “beneficiados” pela Transposição do Rio São Francisco. Os dois canais da Transposição cortam o território do estado no sentido Sul-Norte, do rio São Francisco até sua extremidade oposta. São canais que servem para levar as águas do São Francisco até as bacias receptoras na porção setentrional do Nordeste.

Na propaganda governamental, 12 milhões de pessoas seriam beneficiadas pela Transposição. As comunidades ribeirinhas que estão numa distância de até 5km dos canais deveriam ser as primeiras contempladas pelas águas do Projeto. Entretanto, passados já 7 anos do início da operação do eixo leste da Transposição, poucas são as comunidades beneficiadas de fato. Isto porque o governo não construiu os sistemas de captação e distribuição das águas para atender as comunidades, o que prejudica o abastecimento e a irrigação.

Um caso que causa indignação está no município de Floresta, em Pernambuco. Neste município, onde se localiza a captação de água do eixo leste da Transposição no lago de Itaparica, a maioria das comunidades ribeirinhas não são atendidas pelas águas do Projeto. Segundo levantamento que fizemos, das 12 comunidades deste município que estão na faixa de 5km do canal, apenas 3 são abastecidas pela Transposição.

No assentamento de Curralinho dos Angicos, que fica neste município, a população retira água do canal com latas e baldes para abastecer suas residências, pois não há bombeamento e rede de distribuição. Enquanto isso, a água deste mesmo eixo chega ao açude de Epitácio Pessoa, na Paraíba, de onde é liberada para atender aos grandes latifúndios do Agreste deste estado.

Vê-se claramente que a intenção do Estado é inviabilizar a pequena produção e a vida dos camponeses, isto para expulsar a população e permitir que o latifúndio se aproprie destas terras, que com a Transposição ficaram muito valorizadas em razão da possibilidade de perenização dos rios receptores e do aumento do potencial agrícola das terras. Agora esta água poderá servir para a irrigação das culturas do dito agronegócio, o que de fato já acontece, como o comprova a liberação de água para os latifúndios do Agreste da Paraíba.

Segundo a geógrafa Maria de Melo, pesquisadora que realizou um estudo sobre a renda fundiária na Transposição do São Francisco, os fatos demonstram que este Projeto criou condições extremamente favoráveis ao grande capital agrário na região, pois a perenização de rios antes intermitentes implicou em um aumento da fertilidade potencial dos solos localizados às margens destes rios, e na consequente valorização dos terrenos, o que aguçou a cobiça do latifúndio pelas terras de pequenos camponeses, fato constatado pela sua pesquisa no alto rio Paraíba”
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