Não desejava insistir nesta ou naquela versão a respeito da criação da Embrapa há 50 anos. Existem algumas polêmicas ou controvérsias com a falta de citação deste ou daquele nome que não poderia ser esquecido na solenidade que iniciou a vida da Embrapa.

A omissão de alguns nomes, muitas vezes, traz constrangimentos a determinados grupos que se formaram dentro da instituição desde o seu nascimento. Caso notório refere-se à falta de atenção à atual diretoria da Embrapa na festa realizada no mês passado (abril) em Brasília.

Insisto e volto a repetir: quem criou a Embrapa foi o Luís Fernando Cirne Lima, ministro da Agricultura do Presidente Médici que, com ele, assinou o decreto oficial que deu vida a esta instituição. Falo isso com o maior prazer, pois sou dele um dos maiores fãs e reconheço a importância e a validade de muitos de seus atos e iniciativas no Ministério da Agricultura há 50 anos.

Insisto e volto a repetir: quem criou a Embrapa foi o Luís Fernando Cirne Lima, ministro da Agricultura do Presidente Médici que, com ele, assinou o decreto oficial que deu vida a esta instituição

A admiração era tanta que sonhava com a possibilidade de ele ser o primeiro presidente fora da área militar ainda na revolução. Ele, provavelmente, sabe disso. Alguns fatos, especialmente ligados à viagem que Cirne Lima fez a Minas Gerais, em 1972, são muito importantes na vida da Embrapa.

Em primeiro lugar, Cirne já havia identificado que, como administração direta, ele dificilmente desenvolveria a pesquisa no Brasil. A burocracia era muito grande e o pesquisador do DNPEA (Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuárias) era um verdadeiro burocrata. Gastava, às vezes, até seis meses para adquirir uma autorização de diária e depois mais seis meses para a comprovação dos gastos normais dessa viagem.

Os projetos de pesquisas, na realidade, ficavam relegados a uma segunda importância e só analisados depois do atendimento de toda a burocracia que em volta dele se formava. O Dr. Rondon Pacheco, nessa viagem do Cirne Lima a Minas Gerais, fez questão de que toda a administração da agricultura lhe apresentasse um resumo de seus projetos para que o ministro pudesse conhecê-los.

Quando chegou na vez do Pipaemg (Programa Integrado de Pesquisas Agropecuárias do Estado de Minas Gerais), o professor Helvécio Matana Saturnino fez um relato do que se passava no órgão desde a sua criação. Cirne Lima assustou-se, pois o Pipaemg havia sido criado havia dois anos e, na data daquela visita, estava com mais de 352 projetos de pesquisa em andamento em todo o estado de Minas Gerais, suas regiões e seus produtos.

Dr. Helvécio explicou que ali estava sendo usado um sistema de cooperação e parceria com as universidades de Minas Gerais com a empresa privada especificamente convocada para isso e atendeu a indagação do ministro Cirne Lima, demonstrando que todos aqueles serviços estavam sendo produzidos a partir de acordos e parcerias, inclusive, com os órgãos federais a ele pertencentes, como o Ipeaco (Instituto de Pesquisa Agropecuária do Centro-Oeste), localizado em Sete Lagoas/MG.

Cirne Lima, assustado, indagou ao Dr. Helvécio sobre qual orçamento ele tinha para manter todos os projetos em andamento. Dr. Helvécio, tranquilamente, explicou que estes eram os recursos dos acordos e parcerias que tínhamos com todos os órgãos. Naquele momento,  o ministro Cirne Lima interrompeu todas as falas e pediu ao governador, Rondon Pacheco, que mandasse sua equipe para Brasília, pois queria, no máximo, dentro de um mês, dar uma decisão sobre o destino do DNPEA e resolver definitivamente a solução da pesquisa no Brasil. Essa reunião foi marcada para novembro de 1972, num Congresso feito na UNB (Universidade de Brasília).

Como nesta data já havia surgido a lei que permitia – de forma muito mais direta – a empresa pública, nós, de Minas, indicamos ao ministro que deveria aproveitar tal lei e criando, através dela, a Embrapa. Nascia, há 50 anos, a hoje tão querida e badalada Empresa Brasileira de Pesquisa Brasileira