É possível, inclusive, traçar paralelos entre as duas batalhas campais nordestinas. Lira e Elmar são um único corpo sob a ótima de utilizar a Câmara para pressionar o Executivo. Se há algumas semanas a guerrilha entre o presidente da Câmara e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sobre a tramitação de medidas provisórias tinha como pano de fundo a briga de Lira com Renan, a votação da reorganização da Esplanada dos Ministérios contrapôs Elmar e Rui. Agora, ficou tudo um pouco mais exposto.
A rusga entre Elmar e o PT é muito anterior a atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Quase ministro, o deputado federal teve que voltar a colocar o paletó da posse no armário depois que o PT baiano vetou que ele fosse ministro. Não é algo novo para o político baiano. Em 2008, quando ainda era deputado estadual pelo antigo PR (atual PL), Elmar também teria chegado a arrumar o traje para ser secretário de Jaques Wagner e não logrou êxito. O presente então repete o passado. De quase aliado, o campo-formosense se tornou um ferino adversário, não permitindo um diálogo possível.
Rui, que teve participação no veto a Elmar, ainda que indireta, também não ajuda. Desde que tomou posse na Casa Civil, é possível ouvir de aliados, nos corredores, que a estratégia utilizada pelo ex-governador para lidar com os congressistas tinha grandes chances de dar errado. Controlador da “caneta” do Planalto, o ministro estaria esticando a corda nos mesmos moldes que fazia no comando da Bahia, algo impensável para lidar com raposas da Câmara e do Senado.
A cereja do bolo foi a “ilha da fantasia”. Rui foi duro ao falar que Brasília vive deslocada da realidade do restante do Brasil. O ex-governador da Bahia não está inteiramente equivocado, apesar de ter sido infeliz na expressão. Uma parcela expressiva dos políticos que migra para a capital federal realmente vive numa bolha e desconhecem o Brasil real. Tanto que o slogan “mais Brasil menos Brasília” embalou os primeiros meses de Jair Bolsonaro e “empolgou” o endosso ao então presidente recém-eleito.
Esse episódio de Rui versus Brasília tem ajudado para que Elmar aperte ainda mais a crítica ao ministro da Casa Civil. Ao lado de Arthur Lira, que não mede esforços para criticar a articulação de Lula, ele engrossa o coro para a queda de Rui – mesmo que a articulação não caiba exclusivamente ao ex-governador. Por mais que a briga entre Lira e Renan não esteja mais no foco, teremos mais algum tempo da disputa da República Federativa da Bahia conduzindo rumos do debate público no embate político.