Comitiva avalia impactos e cria mecanismo de denúncia contra parques eólicos em Pernambuco

Agricultores abriram ação judicial e aguardam que a empresa Echoenergia tome providências para compensar o problema

Lucila Bezerra e Vinícius Sobreira
Brasil de Fato | Recife (PE) |

Os cataventos aerogeradores são sistemas de geração de energia eólica presentes em 695 pontos do país. Só no estado de Pernambuco, são 33 parques eólicos em funcionamento. Entre eles está o Parque Eólico “São Clemente”, município de Caetés, no agreste pernambucano, construído pela empresa Casa dos Ventos. Contudo, para as pessoas que moram próximas ao parque eólico, o barulho dos aerogeradores é o que elas escutam dia e noite desde 2016, sem um minuto de silêncio sequer.

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O agricultor Simão Salgado da Silva tem um sítio a 220 metros de um aerogerador, onde plantava, criava galinhas e outros bichos. Mas com a chegada do parque eólico, tudo mudou.

“As informações que eles passavam para a população era que o parque ia trazer grandes benefícios para a população de Caetés, como também geração de emprego e renda. Realmente, na construção do parque houve tudo isso: teve emprego, aluguéis de casas na cidade, teve restaurantes contratados, teve uma série de benefícios, só que eles só falavam dos benefícios, dos malefícios nunca foi falado”, lamenta o agricultor, que precisou se mudar por causa do ruído.

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Famílias sequer sabem a quantidade de energia produzida pelos aerogeradores, o que em tese, basearia o valor pago pela empresa a cada agricultor / Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

“A minha esposa vinha sofrendo muito lá dentro da propriedade com os impactos dos ruídos, e aí teve um problema de saúde muito sério. Eu tive que ficar com ela no acompanhamento médico, o recomendado foi que eu tirasse ela de lá”, conclui.

Observando as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, como o adoecimento físico e psicológico, perdas de animais e prejuízos nas plantações com o vento, organizações como a Cáritas, Comissão Pastoral da Terra, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras entidades têm realizado comitivas para avaliar os impactos nos parques eólicos em Pernambuco.

“Essa comitiva que está acontecendo está sendo muito bom, é fruto desse trabalho de diálogo que a gente está fazendo no estado com outras organizações e também a nível Nordeste, porque a gente percebeu que se a gente não criasse mecanismos de denúncia pelas medidas populares, a gente não conseguiria causar um impacto e dar visibilidade para este problema, em especial no Agreste de Pernambuco”, analisa Uedislaine Santana, vice-presidenta da CUT-PE e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Caetés, que completa “a gente não é contra a energia eólica, mas este não é o tipo de desenvolvimento que a gente quer. A gente quer que as empresas implantem, mas implantem nos locais certos e sigam os protocolos”.

Oito famílias da região entraram com uma ação judicial para que sejam reparados os prejuízos que tiveram nos últimos 5 anos, mas o processo segue em tramitação. Apesar disso, voltar para as terras não é uma alternativa.

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“Não como a gente voltar mais para a propriedade para ficar situado igual nós era. Então, não tem como. Tem que sair para algum lugar distante dos aerogeradores ou procurar a cidade para comprar uma casinha, um terreno e construir. Mesmo a gente tendo um resultado positivo, a nosso favor, não tem como permanecer mais na propriedade”, afirma Simão.

A equipe do Brasil de Fato entrou em contato com a Echoenergia, que é a empresa responsável atualmente pelo Parque Eólico São Clemente, em Caetés; mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga

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