“ Pra gente não perder de vez a esperança/ achar que tudo acabou/ Pra libertar todo o Pais do ódio/ violência e rancor/ A mangueira não vive sem raiz/ beija flor sem flor”.
Assim começa Maurício Dias, com sua voz suave e pausada, uma das faixas que integram seu mais novo disco BASEADO EM BOSSA NOVA, que promete ser cantado por todos aqueles que admiram a letra e a melodia de belas canções. O disco tem a participação de João Donato, ao piano, um dos ícones da Bossa Nova; de Ricardo Silveira, na guitarra ; de Jorge Helder, gravado entre as cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Juazeiro e Petrolina.
Nascido em Juazeiro, em 1955, Maurício, desde cedo, mostrou sua acentuada inclinação pela música. Criança ainda, e com uma extraordinária memória musical, exibia-se em palcos imaginários, imitando cantores consagrados da época, para deleite de quem estava ao redor.
E não podia ser de outra maneira, uma vez que cresceu ouvindo música clássica, jazz, a orquestra de violinos de Paul Mauriat, Beatles, Jovem Guarda, Tropicália e um ritmo diferente que surgia, chamado Bossa Nova. O adolescente dos anos 60 somava a tudo isso os ritmos, sua vivência povoada de histórias e fantasias extraordinárias que emolduram a saga do Rio São Francisco, carinhosamente chamado de Velho Chico.
De sensibilidade incomum, encantava-se com o folclore regional, com as excentricidades da natureza, os chamados noturnos da Mãe D´Água, que de repente surgia do fundo das águas doces, atraindo para seu leito os incautos; deslumbrava-se com figuras do imaginário popular, que assombravam velhos e experientes barqueiros, a ponto de colocarem na proa de suas embarcações enormes carrancas de madeira para se protegerem de qualquer perigo.
E o Velho Chico completava o espetáculo, refletindo em suas águas um caminho de luz dourada, traçado pela lua cheia do sertão.
Do regional para o mundo, os anos 60 vieram de roldão, para transformar todo o planeta. Tudo que era sacramentado pela sociedade conservadora estava perdendo seu prazo de validade. Foi a década que, segundo alguns, ainda não terminou.. Os mitos arrancados de seu pedestal para inserção de uma nova forma de viver, de pensar, de agir.
A Música, como expressão de arte mais transformadora de uma sociedade, não poderia ficar imune a essa inquietude universal. Em meio a vozes de alta potência, surgia nas noites cariocas um ritmo suave, cantado à meia-voz e com uma batida de violão, que, a princípio, não agradou a todos, mas, que veio para ficar: a Bossa Nova. Tom Jobim e Vinicius de Moraes deram-lhe a certidão de nascimento, com “ Chega de Saudade”, e João Gilberto, com sua voz “desafinada”, no peito quase calada, imortalizou-a com sua batida diferente de violão.
Conterrâneo, admirador, amigo e discípulo de João Gilberto, Maurício Dias não tinha outro caminho a percorrer. A Bossa Nova é seu leme, ponto de partida e reta de chegada. O ritmo, a voz suave e melodiosa, o cuidado com a construção poética para a composição das faixas de BASEADO EM BOSSA NOVA fazem do cantor, compositor e poeta juazeirense Maurício Dias Cordeiro mais um expoente da música brasileira. É só ouvir.
Elizeth Rodrigues
Jornalista.
