Dom Saburido critica Bolsonaro por flexibilização da posse de armas

A paz é fruto da Justiça

Por Dom Antônio Fernando Saburido/JC

Meios de comunicação social vêm noticiando que o Presidente da República assinou decreto que facilita a posse de armas de fogo para a população civil brasileira. Prometeu também empenho para a redução da maioridade penal, quando deveria haver empenho para investimentos na educação, sobretudo de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade. Sabe-se que somente um povo bem-educado pode evoluir individual e comunitariamente, sem esquecer a educação da fé.

Como pastor desse povo de Deus, me sinto obrigado a me posicionar publicamente contra essas medidas. Quero lembrar aos que se consideram cristãos a palavra de Jesus ao Apóstolo Pedro no Horto das Oliveiras: “Guarda a tua espada. Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão” (Mt 26,52). Quem quer viver como filho ou filha de Deus deve refletir o seu caráter de amor incondicional. Conforme Jesus nos ensina, “bem-aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

O meio para garantir maior lucro às indústrias de armas pessoais é a violência cotidiana. De fato, esta tem aumentado e sempre provoca insegurança e a revolta nas pessoas. Disseminar armas entre os cidadãos, porém, não somente não diminuirá a violência, como ainda a agravará. Empresas fabricantes de armas é que ganharão com essas medidas.

Há dez anos, a CNBB tomou como tema da Campanha da Fraternidade: A Fraternidade e Segurança Pública. E o lema era a palavra de Isaías 32, 17 que tomei como título dessa declaração: A paz é fruto da justiça. Significa que a segurança pública não se resolverá apenas por medidas policiais e menos ainda por linguagens que incitam violência e ódio em meio às pessoas. De acordo com a Bíblia, só o cuidado com a justiça social e uma educação para o respeito aos direitos de todos podem conduzir ao Brasil que desejamos e com o qual sonhamos.

Espero que padres, religiosos/as e leigos/as da nossa arquidiocese saibam discernir o que é correto e justo e não deem um testemunho contrário ao espírito do Evangelho.

Recordo que nossos exemplos de pastores devem ser Dom Hélder Câmara, servo de Deus que liderou no Brasil a Ação Justiça e Paz através da não violência, e o bispo Dom Oscar Romero, agora canonizado, que deu a vida para acabar com a violência em El Salvador.<

Dom Antônio Fernando Saburido é arcebispo de Olinda e Recife