O músico que fez o Brasil descobrir seu “outro lado”

No período em que a produção artística era focada no eixo Sul e Sudeste, coube a uma voz acompanhada de sanfona amolecer a aridez e hostilidade da caatinga em forma de música. Luiz Gonzaga detinha a arte de inserir melodia em enredos sobre a condição desfavorável da terra onde nasceu.

Não sem consistentes motivos, a obra de Gonzaga é lembrada mesmo após 23 anos de sua morte. As suas músicas lideram rankings das mais tocadas até hoje. Acrescentam-se o ineditismo; a forma como ele conseguiu representar através de um estilo a cultura, os costumes, o jeito de seu povo. Causou revolução no imaginário brasileiro quanto ao Nordeste, aproveitando o bom momento dos meios de comunicação à época e apresentando o sertão como um dos vários “brasis”.

História
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu em 13 de dezembro de 1912 na cidade de Exu, em Pernambuco, filho dos lavradores Januário José Santos e Ana Batista de Jesus, esta mais conhecida como Santana. Ainda na infância, Luiz costumava ajudar o seu pai tocando zabumba em festas pela região, pegando desde cedo o gosto pela coisa.

O amor chegou ao coração de Luiz Gonzaga causando-lhe alguns problemas. Aos 18 anos, seus pais descobriram que ele estava se envolvendo com a filha de um coronel da cidade, que dele não gostava. A surra foi grande. A tristeza por não se casar com Nazarena levou Luiz a fugir de casa e se alistar no exército em Crato, no Ceará. Após um tempo viajando pelo país como corneteiro do exército, deu baixa e foi para o Rio de Janeiro.

Chegando na capital fluminense, não demorou muito para Gonzaga se tornar Gonzagão e popularizar o forró, o xote e o baião, ritmos que até hoje têm ele como precursor.

Registros biográficos apontam que o gatilho para o crescimento da carreira de Luiz veio com a apresentação em um programa de Ary Barroso, em 1941, onde tocou a instrumental “Vira e Mexe”, vindo ela também a ser a sua primeira gravação.

No Sudeste, o inventivo cantor já era considerado o maior representante da música nordestina no país, com sucessos que começavam a ganhar o mundo. O crescimento mais vertiginoso ocorreu quando foi contratado pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, permitindo a ele alcance e destaque ainda maiores.

Através de sua obra, os brasileiros redescobriam o Nordeste em ritmo e melodias que traziam a significação sertaneja de uma maneira nova. Gonzaga não deixava de tratar dos problemas enfrentados pelos seus conterrâneos, mas dava-lhes roupagem pura e singela. Era um retrato poético de uma realidade sofrida, muitas vezes em versos temperados com esperança e saudade, como retratado em “Asa Branca”.

Saudade
E foi justamente a saudade que fez Luiz Gonzaga voltar para o sertão. O motivo era uma visita à sua família, que continuava morando em Exu desde que ele fugiu de casa. O resultado do encontro com seus pais, Januário e Santana, rendeu a famosa música “Respeita Januário”.

Gonzagão também teve um filho, popularmente conhecido como Gonzaguinha. A relação entre os dois durante a infância do menino não foi das melhores. A amizade foi de fato firmada quando Gonzaguinha resolveu seguir os passos do pai e também se tornou músico. Eles chegaram inclusive a fazer juntos uma turnê pelo Brasil. A história de Gonzagão e Gonzaguinha foi tema do programa Musicograma, também da TV Brasil.

Morte

Luiz Gonzaga morreu em Recife, em 2 de agosto de 1989. Foram cerca de 60 anos de carreira, 1.538 gravações de 633 canções, que incluíram parcerias como a de Humberto Teixeira. Desta forma, ele vira figura mítica mesmo depois de morto, com repertório que até hoje figura entre os principais registros da música brasileira.

Fonte: EBC

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