ZELINHO: UMA VIDA DE MISSÃO E 35 ANOS DE TRABALHO

…Venho da região de Patamuté, Curaçá onde nasci e vivi meus primeiros anos no seio da família. Aos 11 anos vir para Juazeiro para estudar. Em Juazeiro morei com parentes que me deram acolhida. Sonhava chegar às férias para voltar para casa. Aos 13 anos perdi meu pai vitima de picada de cobra. Isso me fez sofrer muito, as dificuldades aumentaram. Em Juazeiro desde criança, adolescente ingressei nas atividades da igreja como: catequese, círculos bíblicos ainda nos tempos saudosos do nosso 1º Bispo D. Thomás Guilherme Murphy.

Precisava trabalhar para não me tornar peso para ninguém. Conclui os estudos e fiz concursos e cursos para ingressar no mercado de trabalho. Consegui alguns biscates, mas emprego mesmo era difícil. Fiz concursos para empresas particulares e para estatais sendo aprovado em alguns, porém não fui chamado para nenhum. Era Ditadura Militar e empregar um jovem com idéias revolucionárias seria um perigo para a elite reacionária e conservadora.

Em 1981 a convite do Pe. Francisco Gervásio Dezen (Pe. Chiquinho) comecei trabalhar com secretario da Paróquia da Catedral Nossa Senhora das Grotas, Pe. Chiquinho também novo de Paróquia e juntos lutemos para pôr a paróquia em ordem, pois tinha muitos problemas desde a questão burocrática e financeira até a questão pastoral e social. Foi um tempo difícil, mas graças a Deus, por um período não muito longo e com a ajuda de pessoas de boa vontade a paróquia recupera sua visibilidade.

O Bispo Diocesano era D. José Rodrigues que aqui enfrentou o desafio de implantar uma linha de pastoral libertadora, em sintonia com a Doutrina Social da Igreja e adotada pela CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. D. José foi duramente perseguido pelos poderosos que promoveram uma onda de difamação contra o bispo e a diocese.

Calunias, ameaças de morte, casa invadida, pichações, panfletos clandestinos eram constantes. Até meu nome aparece numa dessas ações covardes.

Além de secretário paroquial assumi várias atividades entre outras a saber:

  • Liderança de grupos de jovens; e do TLC: Treinamento de Lideres Cristãos;
  • Membro da Equipe de Preparação de Batismo;
  • Membro do Conselho Paroquial;
  • Membro do Conselho Diocesano;
  • Membro do Conselho Diocesano de Leigos;
  • Coordenador da PJMP: Pastoral da Juventude do Meio Popular;
  • Integrante da Pastoral da Comunicação, com produção e apresentação de vários programas radiofônicos nas rádios de Juazeiro e Petrolina. A exemplo do programa Participação e Comunhão, na Rádio Juazeiro, inclusive sofri censura do Regime Militar;
  • Membro e coordenador da Escola da Fé em Juazeiro
  • Membro dos Encontros de Formação das CEB’s no Regional NE3;
  • Ministro extraordinário da Eucaristia;
  • Ministro Leigo do Batismo com aprovação e envio de D. José Rodrigues;
  • Presidente do Instituto IDEIA, que tem um trabalho com a Cooperativa dos Catadores de Matérias Reciclável (COOPERFITZ), em homenagem ao Pe. Guilherme Fitz;
  • Em 1997 deixei a Secretaria Paroquial e passo a dedicar tempo integral como Articulador Diocesano das CEB’s, num trabalho em sintonia com o regional NE3 e em sub regional – 6 (Dioceses de Juazeiro, Senhor do Bonfim e Ruy Barbosa);
  • Com objetivo de ajudar as comunidades, na sua ação social, fiz o curso de Jurista Leigo.

Conseguimos articular e participar de vários INTERECLESIAIS, como o 9º em São Luiz do Maranhão, 10º em Ilhéus – BA, 11º em Ipatinga – MG e 12º em Porto Velho – RO.

Como diz o provérbio africano:

“Gente Simples, fazendo coisas pequenas, em lugar não muito importante conseguem mudanças extraordinárias”. Assim são as CEB’s. Eu sou apaixonado pelas CEB’s.

Obrigado, meu Deus por esta caminhada.

Nossos sinceros agradecimentos aos meus queridos párocos: Pe. Chiquinho, Pe. Abraão (em memória), Pe. Reinivaldo (em memória) Pe. Amâncio e Pe. Josemar. Aos vigários paroquiais que passaram pela paróquia, quero agradecer, carinhosamente, a todos na pessoa do Pe. Guilherme Fitz, assim como a todos os sacerdotes, religiosas e leigos (as) da diocese pela harmonia e convivência.

Agradecer a companheirada das CEB’s e das pastorais sociais.

Agradecer aos colegas de trabalho, os ministros (as), coroinhas da Catedral, e das demais paróquias, sintam-se abraçados (as).

A Dona Iraci no trabalho dedicado de sacristia.

Agradecer ao povo bom de Juazeiro a quem procurei servir de modo especial aos mais necessitados.

É bem verdade que nem sempre foi “mar de rosas”. Posso até ter desagradado, mas se assim aconteceu peço perdão. Outra coisa é que pessoas de certas posição social, em certos momentos, quiseram usar a gente para tirar proveito da própria Igreja, o que nunca permiti.

Agradecer aos nossos bispos pela confiança. A Dom José Rodrigues (em memória), o Profeta do Vale do São Francisco, o Bispo dos Excluídos e o Bispo da Caminhada, com quem a gente teve a graça, dada por Deus, de ter convivido tão próximo. A Dom José Geraldo pela firmeza e determinação no pastoreio da igreja que estar em Juazeiro.

Ao nosso novo pastor Dom Carlos Alberto Breis Pereira (O nosso já querido Dom Beto) e dizer-lhe que estou à disposição no que me for possível, para contribuir na Pastoral Diocesana. Dizer que sou devoto de Santo Antônio e amante das atividades franciscanas.

Olhando para trás e vendo as marcas da caminhada até aqui, só me resta dizer: “Sou servo inútil, fiz apenas o que deveria fazer” (cf Lc17,10)

Conclui o trabalho como funcionário exercendo a função de recepcionar freqüentadores e visitantes do Santuário Nossa Senhora das Grotas. Alguém pode achar um trabalho sem relevância. Mas um amigo disse-me: “é melhor abrir as portas da igreja do que fechá-las”. Realmente ali eu recebia pessoas, sobretudo jovens que precisavam de orientação, o que tentei dar-lhes respostas aos seus pleitos.

Nosso afastamento do trabalho deu-se por força do tempo para aposentadoria e não por canssaço.

Nestes mais de 35 anos de trabalho contei com a proteção materna de Nossa Senhora das Grotas e que assim seja pelas estradas da vida.

FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA, DIA DAS COMUNIDADES CRISTÃS E FESTA GUERREIRO SÃO JORGE.

Um afetuoso abraço de PÁSCOA,

José Alves de Sena (Zelinho)

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