QUESTÃO SEMÂNTICA TOMA CONTA DA CRISE NOS PRESÍDIOS

À falta de assunto político que chame a atenção dos leitores;  a  mídia e as redes sociais – estas  mais atuante do que a outra – ,  direcionam  suas baterias contra o presidente Michel Temer que, com responsabilidade e dificuldade em conduzir o destino do país, deve, sempre que ocorra algum fato importante, se pronunciar sobre a questão.

É o caso agora  que toma lugar de qualquer outro acontecimento acidental, provocado, doloso, ocasional, ilícito, eventual e de tantos outros que se possa indicar para chacina, tragédia, acidente pavoroso, irresponsabilidade de governantes, quadrilhas rivais, proteção de presos, controle de penitenciárias, e aos discursos polidos ou cuidadosos de autoridades.

A palavra chacina foi adotada como a melhor de todas as palavras para designar a matança contra pessoas indefesas que são torturadas e mortas por ato criminoso, planejado e executado por criminosos ou por grupos de agentes públicos que passam em concursos dificílimos para se infiltrar nas corporações e agir em nome de quadrilhas.

As chacinas, hoje expostas ao público, têm a mesma origem dos massacres cometidos contra inocentes nas guerras que envolvem interesses econômicos, religiosos  e prestígio pessoal. Não são diferentes dos ataques que não respeitam as leis internacionais que regulam os embates militares e seguem matando indiscriminadamente milhares de inocentes todos os dias.

Nas penitenciárias é raro o dia em que não há torturas entre presos, o mesmo se pode dizer  de igual prática por parte dos responsáveis pela administração.  A fala do governador do Amazonas,  na qual ele afirma que nas penitenciárias sob a sua responsabilidade “não havia inocentes”,  se equipara às falas grosseiras dos criminosos sanguinários que julgam e condenam a penas variadas, inclusive de morte, seus asseclas ou os inimigos das facções que proliferam pelo país.

Esses julgamentos são realizados por ordem de condenados e presos em prisões de “segurança máxima” que, em troca de proteção às famílias de seus carcereiros, vivem em celas especiais  e reformadas para que tenham conforto,  minimizando a possibilidade de serem assaltados e mortos em esquinas das nossas cidades.

Os chefes do crime organizado recebem comida de restaurantes refinados, são isolados dos presos rivais, usam os mais variados meios de comunicação em tempo real, determinam ações e se dedicam à leitura para reduzirem suas penas. Ficam presos a custo de milhares de reais que saem dos bolsos dos assaltados ou desempregados, que lhes garantem  saúde, cultura e vida longa.

E como devemos nos referir a esses fatos incontestáveis da vida nacional? Ainda não se chegou a nenhuma conclusão, nem  entre especialistas, nem entre os parlamentares que deveriam olhar para o interesse público, e não  para os corporativos. As bancadas políticas são organizadas –  excluindo-se alguns parlamentares  – para aprovarem questões sobre suas corporações, o que lhes garantem  a reeleição, ou  para  votarem a favor das  questões fundamentais ao desenvolvimento econômico e social do pais, e,  quando sob os holofotes da mídia, seguem  as orientações das lideranças  e bradam suas falas e votos como se os parlamentares estivessem dedicados a causa maior.

As mortes que estão ocorrendo nos presídios são fruto das prisões desnecessárias e de  políticas de segurança pública ineficazes que jogam policiais nos núcleos de violência e criminalidade a que ficam expostas suas famílias  enquanto eles saem às ruas para combater criminosos fortemente armados e organizados que só não matam mais para não atingirem comunidades onde vivem seus companheiros e familiares.

A fala do presidente não  deve servir  como munição nessa guerra real. O que se constata  no momento é uma   guerra de palavras que são levadas pelo vento como as dos discursos falaciosos das campanhas políticas que eram abastecidas por bandidos de “colarinho branco” e, agora, por traficantes do pó, igualmente branco. Discutamos os fatos.

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