GRITO DE ALERTA!!

blogqspsarah0Outro dia recebi a notícia de que uma das usuárias do Consultório na Rua, uma Profissional do Sexo, transexual, de 22 anos deu entrada no hospital, em função de inúmeras facadas desferidas em seu rosto e pescoço por um de seus clientes. Imagino que se não fosse o meu trabalho, provavelmente eu não saberia disso e dos ataques diários pelos quais passam essas mulheres, que por sua identidade de gênero, via de regra, precisam se prostituir e se submeter às mais cruéis formas de violência.

Por sorte Maria – nome fictício – irá se recuperar dos ferimentos na pele, mas certamente, se seu agressor a tivesse vitimado fatalmente, poucas pessoas experimentariam qualquer indignação decorrente disso, como agora, porque a morte de “um travesti” parece equivaler à de uma barata, que logo depois de limparmos a sujeira, não ganha um segundo a mais de nossa lembrança.

No dia da visibilidade trans, nenhum jornal noticiou o atentado a ela, mas por incrível que pareça, cheguei a respirar a aliviada… Tive medo de que a tratassem na manchete pelo nome com que foi registrada ao nascer, assim como, pelo visto, a trataram no hospital, violentando-a mais uma vez.

No fim das contas, peço desculpas pelo mau jeito com que conto essa história. Esse é apenas mais um dos gritos que tentam ser desentalados e fazer com que aquele sorriso não se desmanche sem qualquer menção a esse respeito.
Hoje quis lembrar de Maria sorridente, vaidosa e irreverente, mas não consigo parar de tentar prever qual delas será a próxima, e quem em breve reforçará a expectativa de vida de pouco mais de 30 anos das transexuais brasileiras.

Quem amanhã será esfaqueada por essa sociedade perversa, que afasta meninas tão jovens de seus entes queridos para não serem a vergonha da família? Quem amanhã o patriarcado matará?

Quem amanhã acabará com a própria vida por não suportar ser tratada como a personificação do pecado pelas igrejas? Quem amanhã cansará de lutar pela conquista do direito a redesignação sexual e se mutilará?

Quem padecerá de doenças facilmente tratáveis por não querer sair à luz do dia para desfrutar do direito à saúde? Quem as piadas diárias dos machos desejosos ainda agredirá?

*Sarah Fonseca é Psicologa e coordenadora do programa “Consultório na Rua” em Petrolina

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