Artigo: O vinhateiro Galvão Bueno

Por José Figueiredo

Quando os antigos gregos pisaram na Península Itálica chamaram aquelas terras de Enótria, a terra do vinho. Realmente é vero, a Itália, desde então, respira e se alimenta de vinhos. Atualmente é um país que possui perto de um milhão de vinhedos registrados, espalhados por vinte regiões vínicas demarcadas, tendo o Piemonte e a Toscana como os mais antigos estandartes dos vinhos italianos renomados.

Berço do Renascimento, a região da Toscana, das seculares Florença e Siena, tem plasticidade única com seus belos vinhedos comungando seu solo com lindos campos de girassóis. A Sangiovese é a cepa tinta predominante e emblemática. É a variedade de maior participação na elaboração dos “Chianti”, no entanto, se supera em alguns Supertoscanos.

Os Supertoscanos, na sua maioria, são vinhos soberbos, mas que não se submetem às classificações governamentais, onde enólogos, como outrora os renascentistas, dão vida às suas obras, verdadeira mescla de tradição e inovatividade. São elaborações com clones típicos ou de outras regiões, inclusive até variedades francesas. Porem humildemente, apenas, ostenta em seus rótulos: Vinho de Indicação Geográfica Típica (IGT), a mais modesta das classificações dos vinhos italianos.

Neste time de vanguarda está Roberto Cipresso. Cipresso, o mesmo enólogo da bodega argentina Achaval Ferrer, é considerado um “artesão do vinho” e aficionado por terroirs. Para o renomado crítico de vinhos americano Robert Parker, “Roberto Cipresso é um dos mais talentosos viticultores e enólogos do mundo. Sua paixão por vinhos de caráter, alma e sobre tudo o que se refira a terroir é quase a de um fanático religioso.”

Dá eco à colocação de Robert Parker, o próprio depoimento dado pelo enólogo Roberto Cipresso, onde o grande artista vínico especifica a sua própria obra: “Dez anos e milhares de tentativas de traçar a quadratura do círculo, buscando uma filosofia de maior equilíbrio e complexidade. Em dez anos eu misturei terrenos, aromas, variedades e diferentes climas sem impor limites à pesquisa, dando liberdade ao acaso e desejando respostas. Mas, como era previsível, eu expandi ainda mais as dúvidas e incertezas. Uma só verdade, sobre todas as outras, surgiu e me maravilhou. Por um estranho fenômeno natural, reconheço em alguns terroirs a perfeição, a magia, à quadratura do círculo traçada pela própria natureza, por milagre ou ciência. E o resultado representa a tão esperada solução, o vinho não projetado, mas descoberto, no qual a intervenção humana é mínima e a Natureza é seu grande arquiteto. Qualquer mão humana criaria danos adicionas e fraturas”.

Assim, quando cavalgamos no tempo, e nos encantamos com novos afazeres, é a pura descoberta da vida e o renascer de nossas realizações pessoais. É o descobrimento de novas vocações, e torna-se muito especial, quando é a vocação de vinhateiro. Obriga-nos a fazermos escolhas certas, e foi o que fez Galvão Bueno, conhecidíssimo apresentador esportivo da Rede Globo.

Galvão entrou no mundo vinho pela porta da frente. Iniciou seus ensaios vínicos, aqui no Brasil, ao lado da badalada vinícola Miolo, capitaneada pelo proeminente enólogo Adriano Miolo, com consultoria do renomado, também, enólogo francês Michel Rolland, autor de exemplares únicos pelo mundo.

Os vinhos do Galvão são diferenciados e fazem parte de um reduzido e seleto rol. O Bueno Prestigie Brut, belo espumante da Serra Gaúcha, está ladeado dos vinhos Bueno, elaborados de cepas fincadas na Fortaleza do Seival, propriedade da Miolo em Candiota, cidade da região da Campanha Gaúcha.

Galvão, agora, partiu para um vôo internacional. Após conhecer diferentes regiões vínicas nos quatro cantos do mundo, encantou-se com a Toscana. Lá conheceu Roberto Cipresso e sua vinícola. As constantes visitações tornaram-lhes amigos, quis o destino, também, sócios. E assim sendo, o Brasil entrou neste seleto grupo de excepcionais vinhateiros.

O primeiro vinho desta parceria é o Bueno La Valletta, um Supertoscano, que já está pronto e será lançado em abril na Expovinis, a maior feira de vinhos da América Latina, em São Paulo. Trata-se de um Sangiovese Pureza, com uvas cultivadas na Podere La Valletta em Lorenzano, norte da Toscana, perto de Pisa e vinificado na Cantina de Roberto Cipresso em Montalcino.

Montalcino, uma pequena aldeia medieval toda murada, no topo de uma colina rochosa dentro da Toscana, na província de Siena, recebe menos de uma centena de vinhateiros que produzem os poderosos e exuberantes Brunello di Montalcino. Vinhos espetaculares, elaborados com a variedade Brunello, também conhecida como Sangiovese Grosso, um clone da Sangiovese, porem com menor rendimento, no entanto, uma uva rica em concentração de nutrientes, gerando vinhos esplendorosos.

Brunello di Montalcino são vinhos singulares e raros, de longevidade excessivamente longa, onde já ocorreram casos de serem degustados destes vinhos com mais de um Século. Faz parte da mais alta normatização dos vinhos italianos, onde é membro da seleção dos vinhos de Denominação de Origem Controlada e Garantida – DOCG.

É neste seleto time que o Brasil entrou pelas mãos do apaixonado, agora, vinhateiro Galvão Bueno. Ambos os vinhos serão importados e distribuídos para o Brasil pela Miolo Wine Group. Então, nos resta esperar 2013 chegar e com ele o primeiro Brunello de produção brasileira, o já tão aguardado Brunello Di Montalcino Bueno-Cipresso DOCG.

*José Figueiredo, sommelier autor e apresentador do vídeo documentário “Vinhos Brasileiros de Qualidade” (ilimitada) e do livro Ensolarado Sertão, Magníficos Vinhos (Franciscana).

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