Por Carlos Chagas
Faxina que se preza envolve diversas etapas. Primeiro, a constatação de que há sujeira, após demorada observação em toda a casa. Verificada a necessidade da faxina, segue-se a escolha dos instrumentos a utilizar: vassoura, rodo, espanador, aspirador de pó, balde com água e desinfetante, esfregão, panos de chão e toda a parafernália subsequente.
Uma vez recolhida a sujeira, cabe à faxineira amontoar o lixo recolhido, isolando-o num canto, para a devida arrumação dos móveis já limpos, entrando antes a cera, a enceradeira, o lustrador e sucedâneos. É claro que a sujeira foi para a lata do lixo e esta para fora da casa, onde será recolhida pelo lixeiro e os caminhões da limpeza pública. Em se tratando de casas com quintal, pode-se até botar fogo no lixo.
Transplantada para a administração pública, os tempos atuais e a disposição da presidente Dilma Rousseff, pode-se deduzir que a faxina encontra-se em plena execução. A dona da casa, expressão do poder público, através da Polícia Federal, do Ministério Público, da CGU e outras entidades destinadas à verificação da sujeira, dedicam-se a identificá-la. Ver onde se localiza. São ajudadas pelos vizinhos que não se cansam de olhar pelas janelas e a sentir o odor desagradável da sujeira acumulada. No caso, a imprensa.
Disposta a presidente da República a promover a faxina, coube a ela vestir o avental e pôr mãos a obra. Começar a separar o lixo, depois de identifica-lo, afastando-o dos cômodos, perdão, dos miniustérios onde se acumulavam.
Até aqui a tarefa vem sendo desempenhada, até com rigor. Mesmo se sabendo que em cima e embaixo de alguns móveis, estantes e armários pode ser presumida mais sujeira, a ser removida sempre que detectada.
Dezenas de funcionários corruptos foram afastados dos ministérios dos Transportes, da Agricultura e da Pesca, assim como três ministros já removidos, no caso o que deveria cuidar da cozinha e não cuidou, como Antônio Palocci, mais Alfredo Nascimento e Wagner Rossi. Tem outros na mora dos espanadores.
O lixo foi removido, ainda que mais possa ser encontrado. Só que falta, agora, dar-lhe destinação, etapa ainda não verificada. Quer dizer, o lixeiro, ou seja, o Poder Judiciário, deve recolher a sujeira. Levá-la para os lixões ou para as usinas de tratamento. Torna-se urgente processar os corruptos, presos alguns, em liberdade outros, obrigando-os a responder por seus atos. Condená-los. De preferência determinando que devolvam o que foi roubado.
Assim se define a faxina, que é preciso manter continuada e permanente. Caso contrário, a sujeira volta.
E OS OUTROS?
Estados Unidos e diversos países da Europa acabam de dar ultimato a Bashar Assad, ditador da Síria. Deve deixar o poder, pelo fato de ser ditador. Nada a opor a essa postura de defesa da democracia, não fosse a utilização de dois pesos e duas medidas para situações idênticas. Como não adotar a mesma determinação para a Arábia Saudita, ditadura bem mais antiga do que a Síria? E quantas outras? Porque são “amigas”?
Houve tempo em que a Europa e os Estados Unidos apoiavam e até estimulavam ditaduras militares na América Latina. Se quiserem recuar um pouco mais, praticavam o mais abjeto dos colonialismos, como na India, China, Oriente Médio e Sudeste asiático. Mudaram para melhor, mas estão sendo sinceros?
ESTÁDIOS SUPÉRFLUOS
Entraram na moda os estádios de futebol, sendo reconstruídos e aprimorados. Bilhões se destinam às obras aceleradas, visando mais conforto para os usuários. Caso não houvessem outras prioridades, seria até louvável assistir toda essa movimentação. O que fica sem resposta, porém, é sobre o que fazer com os super-estádios nos dias sem jogos, a grande maioria do ano.
Quando governador do Rio, Leonel Brizola decidiu construir o Sambódromo, substituindo os desfiles carnavalescos na Avenida Presidente Vargas. Em poucos meses erigiu o projeto de Oscar Niemayer, mas com uma exigência: no longo período de ociosidade o Sambódromo abrigaria montes de salas de aula.
Não seria o caso de no Maracanã, Mineirão e tantos outros estádios, aproveitar-se as obras em andamento para transformá-los também em escolas, até universidades? Coisa complicada mas jamais impossível. Arquitetos não faltam para apresentar alternativas.
ELE FALA, OS AMIGOS NÃO ACREDITAM
De novo o ex-presidente Lula declara: em 2014, a vez é de Dilma, ou seja, se ela quiser concorrer a um segundo mandato, será a candidata do PT e adjacências. O problema é que no PT cada vez mais companheiros não acreditam, continuando a estimular o Lula a concorrer. Alguns por fidelidade ao ícone maior. Outros por estarem amuados com Dilma. Fazer o quê? Não pode o ex-presidente isolar-se em São Bernardo, sem sair de casa, recusando-se a fazer o que sempre fez, ou seja, política, viajando e opinando.