Rafaela Amaral/Claudia Meireles –
O Agosto Dourado foi estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera o leite materno um “alimento de ouro”
O Agosto Dourado, mês dedicado à promoção do aleitamento materno, é uma grande oportunidade para reforçar o papel da informação e da rede de apoio no sucesso da amamentação. A cor eleita para a campanha foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera o leite materno um “alimento de ouro”. No Brasil, a iniciativa é instituída pela Lei Federal n°13.345, de 12 de abril de 2017.
Mais do que instinto, amamentar exige apoio, técnica e informação. Embora seja um hábito natural, nem sempre é fácil — e pode impactar negativamente a confiança e o sucesso dessa prática tão importante para a saúde do bebê e da mulher.
A fim de sanar as principais dúvidas sobre o universo da amamentação, a coluna Claudia Meireles conversou com Elisabeth Fernandes, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e Alessandra Paula, fisioterapeuta especialista em aleitamento humano. A seguir, elas esclarecem os mitos e verdades por trás da delicada fase na maternidade:
1 – As mamas crescem na fase da amamentação
Verdade. De acordo com Elisabeth, não somente durante a amamentação, mas as mamas aumentam de tamanho também na gravidez, devido ao preparo hormonal e à produção de leite. “Após o desmame, elas podem voltar ao tamanho anterior — mas isso varia de mulher para mulher”, diz ela.
“Algumas percebem flacidez, outras não, e isso depende de fatores como genética, idade, número de gestações e tempo de amamentação”, acrescenta a médica.
2 – Mãe que faz uso de medicamentos deve parar de amamentar
Depende. Segundo as especialistas, algumas medicações são seguras, outras não. “A recomendação é sempre consultar um profissional e usar bancos de dados como o E-Lactancia para avaliar o risco”, indica a pediatra.
Já Alessandra explica que existem alguns fármacos que são contraindicados, como quimioterápicos, descongestionantes (que reduzem a produção de leite) e alguns antidepressivos. “No entanto, há medicamentos que não atrapalham diretamente a amamentação, mas causam reações adversas nos bebês, como os relaxantes musculares, que, em sua maioria, deixa os bebês extremamente sonolentos — e isso impacta na disposição deles para mamar”, afirma.

Elisabeth adiciona outros remédios à lista: os radiofármacos, drogas imunossupressoras e derivados de ergotamina. “Antiinflamatórios e antibióticos, em geral, podem ser usados com orientação médica”, pontua.
3 – O estresse pode afetar a produção de leite
Verdade. Conforme Alessandra Paula destaca, estresse, cansaço, pega incorreta e falta de apoio estão entre as principais causas da baixa produção de leite. “O estresse não ‘seca’ o leite’, como muita gente pensa, mas ele pode atrapalhar a quantidade e a ejeção do líquido”, conta a fisioterapeuta.
“A ocitocina, hormônio que ajuda o leite a fluir, é muito sensível às emoções. Quando a mãe está ansiosa ou sobrecarregada, esse reflexo pode ficar bloqueado temporariamente. No entanto, com acolhimento, apoio e descanso, tudo volta a fluir”, argumenta.
4 – Amamentar protege o bebê contra doenças
Verdade. Elisabeth compartilha que o leite materno é um verdadeiro “soro natural”, pois contém anticorpos, imunoglobulinas (como a IgA secretora), células de defesa, fatores anti-inflamatórios e bactérias do bem (que são os probióticos e prebióticos) que protegem contra infecções respiratórias, intestinais e urinárias, entre outras. “Ele atua como uma ‘vacina natural’ e ‘molda’ o sistema imune do bebê, protegendo-o, inclusive, no longo prazo”, frisa a médica.
Para a mãe, o ato reduz o risco de câncer de mama e ovário.

5 – Existe leite fraco e leite forte
Mito. De acordo com Elisabeth Fernandes, não existe leite fraco: “O leite materno é um alimento vivo, completo e adaptável às necessidades do bebê. Se ele está ganhando peso e crescendo bem, está tudo certo.”
“Essa crença abala a confiança da mãe. O que pode existir é uma percepção errada por não conseguirmos medir o leite ingerido no peito, como na mamadeira”, complementa Alessandra Paula.
6 – Peito pequeno não produz leite suficiente
Mito. Segundo as profissionais, a produção de leite depende da estimulação pela sucção, e não do tamanho das mamas. Quanto mais o bebê mama, mais leite é produzido.
7 – Amamentar em livre demanda aumenta a produção de leite
Verdade. Quanto mais o bebê mama, mais leite é produzido. Por isso, a livre demanda é essencial para manter a produção.
8 – Algumas mães não produzem leite
Verdade, porém é raro. Elisabeth ressalta que a incapacidade total de produzir leite é rara (menos de 5% dos casos). “Na maioria das vezes, a ‘baixa produção’ está ligada a falhas na pega, uso precoce de mamadeira, insegurança materna ou falta de estímulo adequado, como mamadas infrequentes e não fazer livre demanda”, esclarece.

Alessandra completa: “A falta de leite pode acontecer por questões hormonais, cirurgias mamárias agressivas ou hipoplasia, que é quando a mama tem pouco tecido glandular”.
“Na maioria das vezes, a queixa não é a ausência de leite, mas [em relação à] a quantidade. Hoje sabemos que a ‘baixa produção’ está ligada à pega incorreta, distúrbios na cavidade oral do bebê, pelo pouco ‘esvaziamento’ das mamas, além dos fatores de risco já bem conhecidos, como cirurgias mamárias ou bariátrica, diabetes, hipotireoidismo, etc”, diz a fisioterapeuta.
9 – Quem usa mamadeira desmama mais cedo
Verdade. O uso precoce de mamadeira pode causar confusão de bicos, dificultando a pega correta no peito e levando ao desmame precoce. Em caso de necessidade, métodos como copinho, seringa ou colher são mais indicados.
10 – Há desvantagens em substituir leite materno por fórmulas
Verdade. A pediatra confirma que, do ponto de vista nutricional e imunológico, a fórmula não oferece os mesmos benefícios que o leite materno. “O leite materno é um alimento vivo, com anticorpos, enzimas e fatores protetores que não podem ser replicados artificialmente. Quando a fórmula é necessária, deve ser usada com orientação do pediatra. Sempre que possível, o leite materno é a melhor opção para o bebê — tanto para o crescimento quanto para a proteção contra doenças”, reitera.
Contudo, Alessandra pondera que isso não significa que a fórmula seja uma “vilã”, já que ela salva vidas quando necessária.