Morre Niède Guidon aos 92 anos; arqueóloga revolucionou a história da ocupação humana nas Américas

A arqueóloga Niède Guidon morreu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos, deixando um legado que desafiou os paradigmas da ciência e colocou o Brasil no centro dos debates sobre a ocupação humana no continente americano.

Formada em história natural pela USP e doutora pela Universidade de Paris, Guidon foi uma das principais responsáveis por trazer à tona evidências de que o ser humano chegou às Américas muito antes do que se pensava.

Enquanto a tradicional teoria de Clóvis defendia que o povoamento se deu há cerca de 13 mil anos pelo estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, as escavações lideradas por Niède na Serra da Capivara, no Piauí, sugeriram que a presença humana no local poderia remontar a 60 mil anos, ou até 105 mil anos, segundo seus estudos.

Suas conclusões causaram polêmica e foram por muito tempo rechaçadas por parte da comunidade científica, especialmente nos Estados Unidos. Mas com o passar dos anos, novos achados, como vestígios de 120 mil anos no Chile e 130 mil na Califórnia, deram suporte às hipóteses da pesquisadora brasileira.

“A felicidade demanda coragem. E, se ela tem um nome, deve ser Niède Guidon”, escreveu o arqueólogo Walter Neves, que por anos foi cético em relação às descobertas de Niède e mais tarde se declarou 99,9% convencido de sua consistência.

Niède nunca se casou nem teve filhos, optando por dedicar sua vida à ciência. “Jamais me senti diferente de qualquer homem”, respondia quando perguntada sobre os desafios de ser mulher à frente de uma missão científica em pleno sertão, nos anos 1970.

Nascida em Jaú (SP), em 12 de março de 1933, de origem francesa por parte de avô, Niède Guidon deixa como herança não apenas suas descobertas arqueológicas, mas também o exemplo de resistência, coragem e dedicação ao conhecimento

 

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