Bioma em perigo!! Como as mudanças climáticas afetam a Caatinga?

No entanto, a Caatinga tem sido fortemente afetada pelas mudanças climáticas, o que pode colocar em risco sua rica biodiversidade e os serviços ecossistêmicos essenciais que ela oferece para a população local e para o planeta Terra.
Esses serviços incluem a regulação do ciclo da água, a proteção do solo contra a erosão, o sequestro de carbono, a regulação do clima, a polinização de plantas e a oferta de recursos naturais como alimentos e medicamentos.

A Caatinga: um bioma único e essencial

A Caatinga cobre uma área de 862.818 km², aproximadamente 10,1% do território nacional, e se espalha por nove estados brasileiros: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a faixa norte de Minas Gerais. Este bioma é a morada de cerca de 28 milhões de pessoas que dependem da Caatinga de diversas formas.

Apesar de sua paisagem semiárida e da irregularidade das chuvas, a Caatinga é um ponto de extraordinária biodiversidade. Estima-se que existam cerca de 3.150 espécies de plantas vasculares, 548 espécies de aves, 386 de peixes, 196 de répteis, 98 de anfíbios, 94 de abelhas e 133 espécies de mamíferos. Essas espécies, muitas das quais endêmicas (que só existem no bioma), desempenham um papel fundamental no equilíbrio ecológico da região e no fornecimento de serviços ecossistêmicos para as populações humanas que nela habitam.

O impacto das mudanças climáticas

Por ter um clima naturalmente semiárido, a Caatinga é especialmente sensível às variações climáticas. As mudanças ambientais globais e locais têm intensificado ainda mais os desafios enfrentados por esse bioma, que corre o risco de se tornar cada vez mais árido.

O aumento das temperaturas e a intensificação de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas torrenciais, estão acelerando a degradação do solo, a perda de biodiversidade e a ameaça crescente de desertificação. Com a elevação das temperaturas, as regiões semiáridas, como a Caatinga, podem sofrer uma transição para o clima árido, típico dos desertos, o que pode impactar diretamente a produtividade das terras, a produção de alimentos e gerar uma série de outras consequências socioambientais.

A desertificação e o agravamento das secas

Ilustração

De acordo com projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as condições climáticas extremas no Brasil devem se agravar com o aumento das emissões de gases de efeito estufa. 

Esse aumento de temperatura e a mudança nos padrões de precipitação podem resultar em uma expansão da desertificação, especialmente nas áreas de semiárido, como a Caatinga.

Isso prejudica a agricultura, a qualidade do solo e, consequentemente, a vida das populações que dependem diretamente da produção agrícola para sua subsistência.

 

Até 2060, cerca de 99% dos grupos de plantas na Caatinga sofrerão perdas significativas de espécies. Além disso, espera-se que cerca de 40% da biodiversidade da região irá passar por um processo de “homogeneização”.

Professor Mário MouraArtigo “Impactos generalizados das alterações climáticas no carácter lenhoso e no generalismo ecológico dos conjuntos de plantas da floresta seca.

O avanço das mudanças climáticas pode resultar em uma transformação drástica da vegetação do bioma. Um estudo conduzido pelo professor Mário Moura, no artigo “Impactos generalizados das alterações climáticas no carácter lenhoso e no generalismo ecológico dos conjuntos de plantas da floresta seca”, aponta que até 2060, cerca de 99% dos grupos de plantas na Caatinga sofrerão perdas significativas de espécies.

Além disso, espera-se que cerca de 40% da biodiversidade da região irá passar por um processo de “homogeneização”. Ou seja, plantas lenhosas – aquelas com troncos mais grossos e rígidos, como árvores – serão substituídas por espécies não lenhosas, como arbustos e herbáceas, que possuem caules mais flexíveis e menos densos).

Isso resultaria em uma redução significativa na diversidade da vegetação e poderia causar a perda de serviços ambientais importantes, como a purificação do ar, a retenção de água e a proteção do solo.

A transformação da vegetação da Caatinga vai além de uma mudança estética. A redução das árvores e sua substituição por vegetação de menor porte comprometem a capacidade do bioma de reter carbono, contribuindo para o agravamento do aquecimento global.

Além disso, as espécies que habitam as áreas mais elevadas, especialmente as lenhosas e raras, enfrentam desafios ainda maiores para se adaptar às novas condições climáticas, aumentando o risco de perda de biodiversidade. Em suma, a degradação da vegetação arbórea da Caatinga pode interromper o ciclo de sequestro de carbono que acelerará ainda mais as mudanças climáticas.

Como as mudanças climáticas afetam os mamíferos da Caatinga

Os impactos das mudanças climáticas afetam os recursos naturais, especialmente a flora e a fauna, com consequências alarmantes para as espécies de mamíferos que habitam o único bioma exclusivamente brasileiro.

Até 2060, a Caatinga poderá perder 91,6% das suas espécies de mamíferos e 87% dos seus habitats naturais.

Estudo publicado na revista Global Change Biology.

Um estudo publicado na revista Global Change Biology revela um cenário preocupante para o futuro dos mamíferos da Caatinga. De acordo com a pesquisa, até 2060, a região poderá perder 91,6% das suas espécies de mamíferos e 87% dos seus habitats naturais. Esse cenário está diretamente relacionado ao aumento das temperaturas e à alteração dos padrões de precipitação na região.

O clima cada vez mais quente e seco torna o ambiente da Caatinga mais hostil para os mamíferos, que dependem de condições específicas para sobreviver. Além disso, as mudanças climáticas aceleram a desertificação e reduzem os habitats naturais, o que dificulta a adaptação das espécies locais.

As espécies que habitam a Caatinga, como o tatu-bola e a guariba-da-caatinga, enfrentam o risco de extinção, pois não conseguem migrar para outras regiões devido à falta de conectividade entre os fragmentos de habitat. Com a perda de vegetação e o aumento das secas, esses animais perdem suas fontes de alimento e abrigo, além de enfrentarem dificuldades para encontrar água. Em muitos casos, as mudanças climáticas prejudicam a reprodução e a sobrevivência das espécies, ameaçando a biodiversidade da Caatinga.

A falta de proteção às florestas de Caatinga

A falta de áreas legalmente protegidas agrava ainda mais a vulnerabilidade da Caatinga às mudanças climáticas. Um estudo realizado pelo pesquisador Lucas Peixoto Teixeira mapeou as Unidades de Conservação (UCs) na Caatinga e revelou que apenas 1,3% da área que corresponde ao bioma está protegida por UCs de proteção integral. Mesmo somando as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), o percentual de território protegido não chega a 8%.

Essa baixa porcentagem de áreas protegidas compromete a capacidade de preservação dos ecossistemas e a resiliência da Caatinga frente aos impactos climáticos.

Considerando que a Caatinga é um bioma com características únicas, situado em uma região tropical com clima semiárido, e que abriga uma biodiversidade excepcional, essa falta de proteção é uma grande ameaça. Sem áreas legalmente protegidas, o bioma fica mais suscetível à degradação, à perda de habitats e à extinção de espécies.

12,85% do semiárido brasileiro já enfrentam processos avançados de desertificação. Isso equivale a cerca de 126 mil km² — tamanho aproximado de quase todo o estado do Ceará.

Laboratório de Análise e Processamento de Imagens e Satélites (LAPIS).

O avanço da desertificação no semiárido

O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens e Satélites (LAPIS), grupo ligado à Universidade Federal de Alagoas (UFAL), aponta que 12,85% do semiárido brasileiro já enfrentam processos avançados de desertificação. Isso equivale a cerca de 126 mil km², o que representa uma área enorme — o tamanho aproximado de quase todo o estado do Ceará.

As regiões mais afetadas, conhecidas como núcleos de desertificação, incluem áreas como Irauçuba (CE), Seridó (RN/PB) e Sertão do São Francisco (BA). Além desses núcleos, outras áreas já apresentam sinais de vulnerabilidade, com grande risco de se transformarem em desertos, afetando 31,6 milhões de pessoas, muitas das quais vivem em condições de pobreza.

Além disso, em 2024, já foram identificadas áreas áridas no estado da Bahia, o que sinaliza que o processo de desertificação, que há tempos vem sendo alertado, já está se concretizando. Isso reforça a preocupação de que, em algumas regiões da Caatinga, o bioma esteja enfrentando uma transição para áreas desérticas, o que coloca em risco ainda mais a biodiversidade e as condições de vida local.

Estratégias de adaptação e mitigação

A situação da Caatinga exige ações urgentes de adaptação e mitigação. Isso inclui o fortalecimento da proteção ambiental por meio da ampliação das Unidades de Conservação (UCs), que atualmente cobrem apenas uma pequena fração da área do bioma.

Além disso, a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, o manejo adequado da água e o incentivo à educação ambiental são fundamentais para reduzir os impactos das mudanças climáticas e promover a resiliência do bioma.

Desenvolver estratégias de adaptação que ajudem as pessoas e os ecossistemas a se ajustarem às mudanças climáticas também é crucial. Isso pode incluir práticas agrícolas adaptadas, sistemas de manejo de solo, além da sensibilização e engajamento das comunidades locais, governos, empresas e instituições do terceiro setor.

implementação de mecanismos de pagamento por serviços ecossistêmicos, como as Leis de Pagamentos por Serviços Ambientais, também pode ser uma estratégia importante para incentivar a preservação da Caatinga e garantir a manutenção dos serviços que ela oferece para o planeta

O futuro da Caatinga e a preservação

As mudanças climáticas impõem desafios imensos à Caatinga, para superar isso, soluções inovadoras estão sendo desenvolvidas, para garantir a preservação e a sustentabilidade desse bioma único. A implementação de políticas públicas para combater a desertificação e a degradação do solo, junto com o incentivo a práticas agrícolas resilientes ao clima, são essenciais para garantir a sobrevivência da Caatinga e das comunidades que dela dependem.

Proteger a Caatinga é garantir a proteção de uma das mais ricas e únicas biodiversidades do mundo, além de manter os serviços ambientais que beneficiam a todos. A sensibilização sobre sua importância e a adoção de medidas eficazes para sua preservação são passos essenciais para que possamos enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas de maneira eficaz.

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