Hieros Vasconcelos/Tribuna da Bahia –
Essa queridinha refeição de preço acessível e que para muita gente marca o início da labuta diária, pode deixar de ser tão frequente no cotidiano de milhares de brasileiros
O bom e simples café da manhã, que no Brasil é a fotografia comum de um cafezinho preto ou com leite, junto com um pãozinho com manteiga, é a tradicional alimentação matinal do povo brasileiro, não só por amor e pelo sabor, mas também por que é o que melhor cabe no orçamento dos trabalhadores dando uma sustança para as primeiras horas do dia.
Essa queridinha refeição de preço acessível e que para muita gente marca o início da labuta diária, pode deixar de ser tão frequente no cotidiano de milhares de brasileiros: os preços começaram a ficar mais salgados, principalmente para quem come na rua, nas lanchonetes, panificadoras e até mesmo nos ambulantes dos bairros.
E o que está fazendo nosso café com pão de cada dia ficar mais caro? Os motivos que aumentaram todos ingredientes – manteiga, café e trigo – são vários: desde questões políticas, passando pela guerra na Ucrânia, às condições climáticas, alta do dólar, crise no setor de laticínios, adversidades políticas e a fraca produção agrícola brasileira.
Com a oferta reduzida e dólar em alta, tem sido grande o repasse do aumento pra população. Em Salvador, não é à toa o espanto de quem sugere um café com pão na padaria por ser mais baratinho: o que antes era no máximo R$5 a R$ 6, hoje pode chegar até a R$15 a depender do bairro e do ‘requinte’ do lugar.
A reclamação de que o valor tá pesando no bolso encontra eco também no centro da cidade, onde diversos ambulantes vendem a preços bem populares a combinação do tradicional café da manhã do brasileiro; Mas ainda assim, mais barato. No Dois de Julho, Marcos Cesar vende todo dia no seu carrinho pão com queijo, ou só com manteiga, mais a média: R$6 os dois alimentos. “Aqui acaba muito rapido, o povo já fica esperando”, afirma a moradora Diana Liz.
Na padaria Panille, a média (café com leite) sai por R$3,50 e o pão por R$3 – sem queijo e na chapa. Ainda mais barato que outra panificadora em Brotas, onde o pão sem queijo fica a R$ 4,50 e com queijo R$7. Se casar com o café o total é de R$10.
“Imagina gastar todo dia de manhã R$ 10 pra comer pão com café? Prefiro comprar meus pãezinhos e comer mais dias em casa. Mas nem sempre isso é possível”, conta o universitário Carlos Augusto Lima, 23, que mora sozinho, chegado de Feira de Santana.
Na Barra, a maioria dos estabelecimentos vendem café com pão e queijo entre R$ 9 e R$15. O mesmo foi observado no Garcia, por exemplo.
Mudanças – Os preços salgados têm provocado a troca forçada do hábito do brasileiro por alimentações até mesmo menos saudáveis. Pelo menos daqueles que comem na rua, que não tem tempo para preparar o café da manhã em casa pois começam cedo e utilizam o transporte público. “Eu quando não consigo comer em casa, acabo comendo um salgado com presunto e um refrigerante daqueles goobs, saem mais barato e me dão a sensação de mais saciedade. Às vezes meu filho enche o saco e pede um salgadinho qualquer”, diz a manicure Almerinda Souza dos Santos, moradora do Dois de Julho.
Causas – No caso do trigo, o Brasil, apesar de ser uma das maiores potência agrícolas do mundo, traz do mercado externo a maioria do trigo utilizado internamente,. E, por lá, o alimento está ficando escasso e cada vez mais caro.
No caso do café, o preço está em alta devido a inflação climática e a redução da oferta, além da alta do dólar e do clima adverso entre Brasil e Vietnã, principais exportadores. Além disso, está acontecendo mais exportação para suprir o mercado externo.
Já a manteiga tem subido de preço devido à crise do setor de laticínios, que enfrenta um cenário de aumento de custos, como o preço do leite e das embalagens. Aliado a isso é a alta demanda onde mais se consome, que é na Ásia. Tanto o café, quanto a manteiga, por exemplo, estão na lista de maior variação de ruptura nas prateleiras dos supermercados. Os dados são do Índice de Ruptura da Neogrid, indicador que mede a ausência de produtos nas gôndolas.
De todos os itens analisados, os números das maiores variações foram: ovos de 16,6% para 17,1%; leite de 11% para 14,8%; manteiga de 8,1% para 10,5%, arroz de 9,7% para 10,2% e café de 8,8% para 9,9%.os brasileiros no mês de junho, de acordo com dados do Índice de Ruptura da Neogrid, indicador que mede a ausência de produtos nas gôndolas.
Segundo uma pesquisa da Efficienza, empresa especializada em assessoria de comércio exterior, o valor do quilo do pão francês varia até R$ 8 no país. Segundo a pesquisa, na capital, a média está em torno de R$18,50 o quilo, no entanto, na cidade isso é bastante relativo de bairro a bairro.
“A vida de gente é muito corrida, mas do jeito que tá, a gente tem que aumentar mais umas duas horas no dia. Eu costumo antes de dormir preparar meu pão com queijo e esquento no dia seguinte. Mas ainda assim o pão tá caro. Onde compro o quilo é 17 reais. Tá difícil fazer essas contas. A gente
não sabe se é mais econômico comer na rua ou comer em casa. Mas em casa a gente não tem tempo”, reclama a manicure.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), desde fevereiro de 2022, o preço do quilo do pão foi reajustado entre 12% e 20% no país. O Sindicato das Indústrias de Trigo de São Paulo (Sindutrigos) aponta que no Rio de Janeiro, por exemplo, o quilo do pão custa de R$ 17,90 a R$ 19,50. Em São Paulo, chega a R$ 22,90, o que dá quase R$ 2,90 por 90 gramas. Em padarias no extremo leste da capital, o preço encontrado foi de R$ 16,90.