Roberto Carlos, o Rei: auge e declínio

Mario Sérgio Felix  –

Roberto Carlos não se tornou o Rei da Juventude por acaso. O crescente amadurecimento nos anos 1960 a partir do tão discutido compacto “João e Maria/Fora do Tom”, Polydor/1959, até o ano de 1971 o coloca como sendo o artista que mais atingiu um nível musical de qualidade.

A passagem pela Jovem Guarda dá a Roberto um conhecimento maior de ritmos e melodias que conseguem aglutinar em seu meio um time de compositores bastante competentes para o movimento que ele cria, abastece e dá fim em 1968.

É notório que com o fim da Jovem Guarda a figura de band-líder torna-o uma figura que agora procura novos horizontes. Ele é uma casa nova à procura de abrigo. Isso vai ser notado na gravação do seu disco de 1968, “O Inimitável”, que nada tem a ver com o movimento criado por ele, a “Jovem Guarda”.

O disco traz momentos do movimento Tropicalista, algumas batidas de funk. A ingenuidade da Jovem Guarda é esquecida num quarto de Londres, a começar pela canção composta por Antônio Marcos e “Não Vou deixar Você Tão Só”.

O disco marca uma transição de fase do Roberto. Seu gênero muda de uma forma tão impactante que começa a aproximá-lo da Música Popular Brasileira, a famosa MPB. Os álbuns de 1969 e 1970 mostram tanto essa maturidade significativa que os grandes intérpretes da MPB começam a gravá-lo, e com sucesso.

Essa transição dá a Roberto Carlos a possibilidade de gravação nos Estados Unidos nos estúdios da CBS com a qualidade que aquele estúdio detinha e os equipamentos que até o moimento não se encontravam no Brasil. A começar pelos arranjos e harmonias produzidos pelo maestro e pianista Jimmy Wisner.

A partir de 1971 Roberto Carlos atinge uma maturidade fenomenal em suas canções. Roberto se torna mais plural nos temas em letras e músicas. Sem efeito, a Jovem Guarda fica para trás, como o próprio Roberto canta em seu sucesso de 1977 “Jovens Tardes de Domingos, tantas alegrias, velhos tempos, belos dias”.

Nesse crescente momento na carreira e nessa pluralidade musical, Roberto experimenta em suas músicas o erotismo, coloca em prática a influência de Tim Maia, explora como poucos a chegada da religiosidade, da ecologia e absorve novos compositores que irão despontar na MPB, a exemplo de Belchior, Fagner, Benito di Paula, Milton Carlos, Isolda, Carlos Colla, Maurício Duboc e tantos outros.

Essa maturidade é tão benéfica para Roberto que ele começa um relacionamento com nomes expressivos da música brasileira e internacional e coloca a sua voz em nome desse momento que vive. Dolores Duran, Dorival Caymmi, Carlos Gardel, Armando Manzanero, Newton Teixeira, Caetano Veloso, Benito di Paula e outros mais, e consegue o mesmo sucesso obtido por esses compositores.

A década de 70 aproxima Roberto do seu público. Aí se confundem públicos românticos, MPB, rock, soul, a Tropicália e atravessa essa década como sendo o artista brasileiro de maior expressão da música brasileira.

Não é para menos. Seus discos vendem aos milhões. Público jovem, adulto e adolescente veem em Roberto um artista que consegue se identificar com esses segmentos. Suas canções atingem em cheio os pedidos dessa esfera.

A década vai terminar com Roberto sendo um grande líder de audiência em seus programas de final de ano e na expectativa do lançamento de seu álbum anual. Aliás, esse era o ponto alto nas casas que brincavam de “amigo secreto”, pois a certeza do disco do rei como presente na brincadeira era certa. E como era.

A partir da década de 1980, ainda com uma forte marca do rei no mercado e com um grande volume de vendas, seu espaço na mídia começa a diminuir. Não existe uma definição para esse momento. Talvez a combinação de um número cada vez menor de canções inspiradas em discos com temas orquestrados, que geraria um acompanhamento mais burocrático.

O seu público começa a ser mais diminuto, seus discos começam a se tornar mais seletos para um segmento próprio do mercado: taxistas, mulheres de óculos, gordinhas, caminhoneiros.
Por outro lado, no Brasil um outro segmento bastante forte desperta: o rock. Bandas como Legião, Paralamas, Titãs, Engenheiros, Blitz, bem como artistas individuais, começam a ter a preferência musical. Outro segmento crescente no Brasil é o sertanejo, assim como o axé music a partir da década de 90.

As músicas de Roberto começam a ter um tema mais romântico, melodramático, que não cai muito no gosto e na preferência de seus fãs. Não há como negar que exista aí um declínio na carreira do Rei. Suas composições se tornam diferentes das compostas dos anos 1970. Seus parceiros também são mudados.

A partir dos anos 1990 a parceria com Erasmo Carlos se torna cada vez mais rara. É notório o crescimento do Tremendão nessa década, bem como nos anos 2000 até chegar ao recebimento de um Troféu Grammy Latino no ano de sua morte, 2022, na categoria melhor álbum de rock “O Futuro Pertence à… Jovem Guarda”. Mas aí já é um outro artigo.

A convite do jornalista Jozailto Lima, mantenedor deste Portal JLPolítica & Negócio, estarei aqui todas as quintas-feiras falando de coisas por trás da nossa boa música do Brasil. Fui elevado a articulista! Não me deixe só e venha você comigo.

Foto: Brazil Photo Press/Folhapress

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