Diretor da UESP em Petrolina debate a Política de Bonificação conversando com o médico e professor da UFPE, Rodrigo Cariri

Há um mês, Paolo Presta, diretor da União dos Estudantes Secundaristas de Petrolina – UESP, entregou a proposta Incluir para Democratizar à Universidade Federal do Vale do São Francisco-UNIVASF. Com o objetivo de aumentar de 50% para 60% as cotas de estudantes que cursaram integralmente o Ensino Médio em Escolas Públicas; de criar 1 vaga para todos os cursos, reservadas aos candidatos indígenas, e a instituição do bônus de inclusão regional de 15%. Para então estimular o acesso aos candidatos que residem na região de abrangência da UNIVASF.

Para ampliar o debate, Paolo entrevistou o Médico de Família e Comunidade, também Mestre em Saúde Coletiva e Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco/Caruaru-PE, Rodrigo Cariri.

Rodrigo contou como ocorreu o processo de interesse e adesão da política de Bonificação Regional, na UFPE, em Caruaru-PE, lá conhecida por Argumento de Inclusão Regional. E também esclarece como outras  experiências já realizadas são fundamentais para as universidades que ainda estão em processo de adoção da medida.

Também considerou a ação da UESP como importante, do mesmo modo que a Inclusão Regional se fez necessária para estudantes da região de Caruaru. “O fato de as políticas de cotas permitirem que estudantes de baixa renda, de famílias que não tinham acesso à universidade tradicionalmente passaram a ter, repercute pedagogicamente no cotidiano do curso, no desempenho dos alunos diante da proposta pedagógica que é construída para a região” inicia Rodrigo.

PAOLO PRESTA (UESP): O que justificou a construção de uma política de Bônus na Universidade Federal de Pernambuco-UFPE?

RODRIGO CARIRI (UFPE): O Argumento de Inclusão Regional, também conhecido como Bônus, surgiu na UFPE por ocasião do curso de Medicina de Caruaru-PE. Esse curso nasceu num ciclo de expansão tardia da medicina, ou seja, a gente já pôde conhecer as experiências de Petrolina-PE, inclusive, e tentativas de interiorização do norte do país. Examinando essas experiências, nós flagramos um fenômeno de muitos estudantes que vinham do sudeste do país para a região. Eram aprovados no vestibular, na época, e com isso estudavam e se formavam na região, mas depois que se formavam voltavam para as suas regiões de origem, interferindo com os resultados de interiorização. Então quem começou com esse movimento foi a Universidade Federal do Rio Grande do Norte–UFRN, Campus de Caicó-RN; sendo a turma de medicina, deste município a primeira que conseguiu implementar essa iniciativa de Bonificar. Eles usam o Argumento de vinte por cento, em Caicó, e a gente adotou, posteriormente a eles, um argumento de dez por cento, aqui em Caruaru.

PAOLO PRESTA (UESP): Quais foram as reações da comunidade, houve posições contrárias? Se sim, sob qual alegação?

RODRIGO CARIRI (UFPE): Não tivemos resistência internamente. Dentro da Universidade a discussão ocorreu com muita naturalidade. Acho que isso se deve ao fato de a gente já ter as experiências anteriores para justificar. Também, em Caruaru e na região, obviamente, essa discussão e iniciativa foi muito bem vinda. Nós não encontramos resistência de nenhuma parte aqui na UFPE.

PAOLO PRESTA (UESP): Qual avaliação da implementação da política de bônus na UFPE?

RODRIGO CARIRI (UFPE): A avaliação é extremamente positiva. Estou fazendo minha pesquisa de doutorado sobre a interiorização e, nas entrevistas, apesar de esse não ser um elemento de análise central, todos os professores fazem questão de anotar que o elemento mais importante da interiorização foi o elemento do Bônus de Inclusão Regional somado à Política de Cotas. Essas são as mudanças que fazem a gente acreditar numa transformação estrutural com a interiorização em Caruaru. Além de pedagogicamente, isso repercute também nos resultados; a gente já tem duas turmas formadas e muitos destes profissionais foram absorvidos na região. Claro que a gente ainda não tem esse indicador, foi em curto período, são dois anos, apenas, para analisar, mas a gente tem, na fala dos gestores locais do SUS e na fala dos próprios professores que atuam no sistema de saúde local um atestado da mudança que representou a interiorização, e, nesse caso, pelo fato dos profissionais que se formam em Caruaru continuam na cidade, atuando no Sistema de Saúde.

PAOLO PRESTA (UESP): Como vocês veem a atuação do poder judiciário restringindo o alcance da autonomia universitária?

RODRIGO CARIRI (UFPE): Eu posso falar por mim, acho que essa é uma pergunta bastante delicada. Quanto ao Poder Judiciário eu acho muito bem vindo. É necessário que haja esse arbítrio, essa mediação da justiça, mas acho que é importante reconhecer quais são os interesses de quem representa, quer seja um ente privado, civil, uma pessoa física ou o Ministério Público, que interesses eles argumentam no sentido de interferir com o argumento de inclusão regional.

Acho que levar o debate que há uma interferência sob a autonomia universitária um pouco exagerada, não acho que eles tenham entrado dentro da universidade, por exemplo, para discutir o projeto pedagógico ou a nossa autonomia científica, sobre o que a gente dá aula. A gente nesse caso está discutindo sobre o acesso à universidade pública, que é um direito, portanto, precisa desse debate. Mas o debate precisa ser feito à luz das desigualdades sociais e como as universidades de ensino superior atuam para a diminuição da desigualdade.


ASCOM UESP