Política Livre – O chão abriu-se sob Jair Bolsonaro por sua própria e exclusiva responsabilidade. Seu processo de abandono foi deflagrado, segundo o noticiário que começou ontem e prosseguiu hoje, por ministros, Judiciário, parlamentares, aliados. O presidente se tornou imensamente tóxico.
É preciso que Bolsonaro sofra as penas do distanciamento político, ainda que muito leves se comparadas às que podem estar reservadas ao país e à sociedade brasileira, por sua postura irracional e o voluntarismo desumano frente a uma pandemia que ameaça a todos.
Espalhou-se que Sérgio Moro (Justiça) se aliou a Paulo Guedes (Economia) na defesa da manutenção do titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, detentor da segurança e do conhecimento de que o país precisam neste momento. É uma boa notícia.
Mandetta é alvo de Bolsonaro por causa da visibilidade que vem obtendo durante a condução da crise e por não encampar o movimento destrutivo que o presidente lidera contra o confinamento sob o argumento de que afetará a economia.
Economia, aliás, cujas rédeas, numa crise, estão nos instrumentos que só o presidente da República tem às mãos para utilizar, mas não o faz uma parte por ignorância, mas também por evidente descompromisso e falta de responsabilidade para com a sociedade.
Mas um governo em que ministros, superando divergências que já se sabem quase públicas, se aliam para manter um colega que reputam com competência para ajudar a todos no enfrentamento de uma pandemia não pode ser considerado mais um governo.
Da mesma forma que uma gestão em que o presidente, com medo da sombra, monta uma estratégia para suprimir de um ministro a visibilidade que a própria posição lhe confere é o retrato da mais completa degradação.
Pelo visto, só uma parte dos militares continua manifestando apoio ao presidente.
Atuam, neste sentido, como uma linha de contenção para evitar um efeito manada que potencialize o aprofundamento do isolamento de Bolsonaro, comprometendo ainda mais o conjunto de ações necessário para o enfrentamento do coronavírus e suas consequências econômicas.
Por meio do desvario populista, Bolsonaro se afastou excessivamente da linha em que seria possível retornar.
Mesmo que recue, terá quebrado as pontes pessoais com a equipe, necessárias para que continue governando. O problema é que, mesmo que não lhe dêem mais ouvido, vai continuar atrapalhando todo mundo.