SÓ TRÊS CIDADES BAIANAS TÊM APENAS MULHERES CONCORRENDO À PREFEITURA

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Antes de seguir lendo este texto, é importante que a leitora – e o eventual leitor – tenha um dado em mente: em todo o estado da Bahia, mulheres representam pouco mais de 52% do eleitorado. Agora, guarde os nomes desses lugares: Maraú, no Sul da Bahia; Nova Redenção, no Centro-Sul, e Wanderley, no Extremo-Oeste. Juntas, essas três cidadezinhas não chegam a uma população de 45 mil habitantes. E, lá, homens não têm vez.

Pelo menos, não na disputa pelo cargo mais alto do Executivo municipal. Segundo um levantamento realizado pelo CORREIO com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre os 417 municípios da Bahia, somente esses três contam com apenas mulheres concorrendo à prefeitura. Em cada uma delas, são duas representantes femininas que deixam os marmanjos – e o patriarcado – no chinelo.

Mas, se esses três municípios representam a resistência feminina, eles também mostram que a briga nas trincheiras é injusta: são cerca de 0,7% do universo. Só para dar uma ideia, em outras 261 cidades, somente homens tentam ser prefeitos – é o caso do segundo e do terceiro maiores colégios eleitorais do estado, Feira de Santana e Vitória da Conquista, respectivamente.

Salvador, por sua vez, está entre os 153 municípios mais equilibrados, com candidatos homens e mulheres na disputa. Porém, mesmo entre os que têm representação feminina, em apenas 11 elas são maioria (Teofilândia, Barro Preto, Campo Alegre de Lourdes, Capela do Alto Alegre, Cardeal da Silva, Ibirataia, Lençóis, Pindaí, Ubatã, Urandi e Capim Grosso).

De acordo com a pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Salete Maria da Silva, essa realidade é a mesma do restante do país. “Mesmo com a lei das cotas para as mulheres, mesmo com aproximação dos partidos, especialmente os de esquerda, com mulheres militantes, ainda existe no Brasil um déficit. Chamo isso de brecha de gênero, porque é uma lacuna muito grande no que diz respeito à representação feminina na política e existe uma violência política contra a mulher”, diz ela, que estuda o tema e é autora do livro A Carta que elas escreveram: as mulheres na Constituinte de 1987/88, que será lançado no próximo mês.

Para ela, também é reflexo da visibilidade das mulheres do trabalho e em casa. “Por isso que nós precisamos investir em mais formação política para as mulheres. Precisamos feminizar a democracia, que é muito masculina. Precisamos cobrar que os partidos insistam, no horário eleitoral, em falar da participação das mulheres”, pontua.

Para diminuir essa desigualdade (na Bahia, são 186 candidatas contra 1060 homens), o TSE promove, em anos de eleição, a campanha Igualdade na Política, em rede nacional de rádio e televisão, desde 2014. Em 2015, esse tipo de ação se tornou obrigatória no país para incentivar a participação de mulheres na política.

Uma delas vem aí

Quem já está nela também faz campanha indireta por mais mulheres. É o caso das mulheres que estão no páreo em Maraú: a candidata à reeleição Gracinha Viana (PP) e a candidata Vera Sarmento (PSB). Gracinha, que chegou a participar do pleito em 2008 também e perdeu, diz que as mulheres precisam de “mais ânimo e coragem”. Professora de formação, antes do Executivo, ocupou uma cadeira na Câmara Municipal de Maraú por dois mandatos, além de ter sido secretária de Ação Social da cidade.

“Eu acredito que as pessoas estão desacreditadas na política, principalmente as mulheres. Chegou ao ponto em que a gente não acredita mais em políticos e, às vezes, a mulher já é mãe, esposa ou avó, como é meu caso. Tem empecilhos naturais (que afastam as mulheres desse universo), mas precisam participar mais. As mulheres tem tanta capacidade quanto o homem. Em certos cargos, até mais”, provoca.

Sua concorrente, Vera Sarmento, também já esteve no cargo – passou um tempo como vice-prefeita e exerceu a prefeitura por pouco mais de um ano após a renúncia de seu antecessor, em 2007. Antes disso, tinha sido secretária de Turismo por quatro mandatos. E é a isso que ela atribui o fato de não ter tido muitas dificuldades para ocupar maiores espaços.

Mas, mesmo em uma cidade com tradição de mulheres no cargo mais alto, ela diz que, de uma maneira geral, as pessoas ainda não acreditam em governos femininos. “Acho que agora é que estão começando a reconhecer o valor da mulher. Antes, ninguém acreditava que a mulher pudesse fazer política como os homens e a gente está mostrando que é melhor do que eles”, afirmou.

IBAHIA

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