O CORONEL GERALDO DIAS E SEU LUNGA

seu lunga com coronel geraldo

O Coronel Geraldo de Juazeiro da Bahia era próximo de Seu Lunga

Ele tinha 87 anos de idade e morreu na manhã do sábado (22) no Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, na cidade de Barbalha (CE), vitima de câncer no esôfago.

“Ele era uma pessoa carismática e de bom humor. Além de se tornar pessoa folclórica, se tornou um mito para todos nós nordestinos”, lamentou Coronel Geraldo que esteve com Seu Lunga há pouco tempo (foto)

Famoso por seu mau humor e sua intolerância à burrice e às perguntas óbvias ou sem sentido, “Seu Lunga” acabou se transformando num dos principais personagens da cultura popular nordestina.

Ele era poeta, vendedor de quinquilharias e repentista e suas respostas rápidas e inteligentes já viraram objeto de estudo por parte do professor aposentado da Universidade Federal do Ceará, Renato Casimiro, que há anos pesquisa e coleciona “causos” sobre o ilustre personagem.

“Seu Lunga” inspirou inúmeros folhetos da literatura de cordel retratando-o como personagem zangado, bruto e mal humorado.

Para Casimiro, entretanto, algumas anedotas atribuídas a “Seu Lunga” não são verídicas. “Nem tudo que se falava a respeito dele era verdade. Criou-se uma ficção a respeito dela, que tinha um humor refinado, era grosseirão, mas às vezes também se manifestava de forma sutil. E sabia fazer ótimos discursos”, disse o professor.

A seu ver, “tem muita coisa inventada (sobre o personagem), que não aceitava pergunta besta”.

A Prefeitura de Juazeiro decretou luto oficial de três dias pela morte de “Seu Lunga”, que deixou esposa e 13 filhos.

Coincidência ou não, “Seu Lunga” foi personagem de um artigo escrito recentemente (09/11) pelo ex-ministro Gustavo Krause para o JC, intitulado “Troféu Seu Lunga”. Confira:

Um dos meus dez fiéis leitores, ou seja, 10% deste vasto universo, me cobrou: “Como é cara? Não escreve mais?”.

De fato, resolvi dar um tempo diante do bate-boca eleitoral e do furor analítico que tomaram conta da mente e do coração dos brasileiros. Afinal, nada acrescentaria ao acalorado debate, não poucas vezes, contaminado pelo veneno da ofensa.
Enquanto a pauleira corria solta, não sei por quê, uma súbita associação de ideias me fez refletir sobre o idiota. Talvez, uma autoanálise que me denunciava como o próprio idiota.

Que tipo de idiota? Eis uma questão pertinente (no meu caso, deixo o enquadramento a critério do leitor). Com efeito, a palavra idiota, desgarrada da origem grega (pessoa leiga, o homem privado face ao homem público) e do diagnóstico psiquiátrico, tem dois significados.
De um lado, o significado inspirado no personagem central da obra canônica de Dostoiévski, O Idiota, na qual o príncipe Michkin é criatura benevolente, generosa, ingênua, portadora de pureza e de compaixão reveladoras de um ser inadaptado ao mundo perverso; de outro lado, está o significado corrente que empresta ao idiota uma cesta de sinônimos, entre os quais, estão: cretino, tolo, pateta, palerma, parvo, abobalhado, abilolado, energúmeno, estúpido, leso, mentecapto, banana, bocó, desmiolado, pato, mané, etc.

Ora, diante desta amplitude, quem não cometeu idiotices, atire o último sinônimo! Cuidado, é pecado, diz a Bíblia, atribuir ao próximo a pecha de idiota.

Assim sendo, é preciso identificar tipos: existe o idiota ocasional e o idiota fundamental; o idiota, pessoa física, e o idiota coletivo, o maria-vai-com-as-outras, a massa, o rebanho, a manada, a multidão, o consumidor, o torcedor, o eleitor. Todos, vulneráveis à manipulação.

Existem os inofensivos e os de alta periculosidade, estes, em geral, ativos, influentes, imodestos. Aliás, alguém já disse que, atualmente, “o idiota perdeu a modéstia” o que é um corolário da constatação genial de Nelson Rodrigues: “O grande acontecimento dos nossos dias foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”.

E o que tem “Seu Lunga” a ver com isso? Seu Lunga, Joaquim dos Santos Rodrigues, cearense, residente em Juazeiro do Norte, estabelecido no ramo do comércio de sucata, tornou-se conhecido como o homem mais ignorante do país, rude, grosso que nem papel de embrulhar prego e, sobretudo, implacável combatente da idiotice.

Seu Lunga fica arretado quando contam suas histórias. Diz que é mentira. Não adianta. Virou verdade. São tiradas saborosas. Aí vão algumas: Seu Lunga estava coçando a cabeça por cima do chapéu. Aí um cara perguntou: “Seu Lunga, por que não tira o chapéu?”

Seu Lunga, rápido no gatilho: “Você tira a calça pra coçar a bunda?”. Seu Lunga estava sentado no ônibus e, ao lado, o lugar vago, aí o cara perguntou: “Seu Lunga tem alguém sentado do seu lado?”. “Se tem, tô cego. Num tô vendo”. Seu Lunga ia saindo de casa e deu de cara com o vizinho. “Bom dia, Seu Lunga, para onde vai tão cedo”. “Vou pro enterro do Chico”. “E Chico morreu”. “Não. A família se reuniu e vai enterrar Chico vivo mesmo”.
Seu Lunga levou o carro pra oficina. O mecânico perguntou: “Seu Lunga esse carro ronca”?

“Sei não. Ele dorme na garage”. Um amigo encontrou Seu Lunga: “Nunca mais vi o sinhô.

Por onde o sinhô anda?”. “Pelo chão mesmo. Ainda não aprendi a voar”.

No dia da eleição, Seu Lunga, abusadíssimo, foi votar. A jovem mesária perguntou: “Veio votar, Seu Lunga?”. “Não. Vim doar sangue para o bem do Brasil”.

Por essas e outras, foi instituído o troféu “Seu Lunga”, um prêmio para as pessoas que, a exemplo dele, contribuem para reduzir a Taxa de Idiotice Nacional – TIN. Conte sua história e envie para o seguinte endereço: bradoretumbante@giganteadormecido.com E fique tranquilo. A Comissão Espertobras julgará, com decência e isenção, os casos apresentados.

 

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